Biólogo defende criação de incentivos para a compra de pequenas parcelas de terreno

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 23-10-2017

A criação de incentivos fiscais à compra de pequenas parcelas de terreno é uma das propostas do biólogo Carlos Fonseca para as áreas devastadas pelos últimos incêndios, o que ajudaria a travar o abandono do interior.

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“Há agora muita gente a querer desfazer-se dos terrenos”, disse hoje à agência Lusa o professor da Universidade de Aveiro, que, por indicação do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, integrou a Comissão Técnica Independente que elaborou o relatório sobre os fogos que eclodiram em Pedrógão Grande e Góis, no dia 17 de junho.

Nos últimos anos, Carlos Fonseca tem apostado na recuperação de medronheiros espontâneos e na plantação de novas áreas de medronhal, em 12 parcelas que possui no concelho de Penacova, que totalizam 21 hectares e que foram dizimadas pelo incêndio de dia 15.

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Se, por um lado, “há uma enorme desmotivação” dos proprietários dos espaços florestais consumidos pelas chamas, designadamente vizinhos seus do concelho de Penacova, no distrito de Coimbra, por outro, “não haverá pessoas para adquirir muitas áreas”, afirmou.

Na sua opinião, “falta uma política fiscal para criar escala” e que promova a fixação de pessoas nos municípios montanhosos do interior da região Centro, onde predomina o minifúndio.

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“Tem de haver incentivos para que isso aconteça”, em sede do registo de propriedade, já que, por vezes, “paga-se mais pela escritura do que pelo terreno”, salientou.

Nos últimos anos, Carlos Fonseca apostou na “plantação ordenada” de medronheiros e na recuperação de árvores antigas que já existiam nos seus terrenos.

“Fiz um grande investimento na prevenção”, disse, ao lamentar ter perdido “centenas de milhar de euros” aplicados nos medronhais, além de algumas colmeias.

Em maio, o também presidente da Cooperativa Portuguesa de Medronho, com sede em Proença-a-Nova, apresentou, em Albergaria-a-Velha, o que na altura, em declarações à Lusa, definiu como o “primeiro medronhal de produção certificado do mundo”.

Neste outono, pretendia colher os primeiros medronhos destinados ao mercado de frutos frescos, nas explorações de São Pedro de Alva, entre os rios Mondego e Alva, um sonho que viu fugir-lhe à passagem do fogo, que também esteve a combater.

“O grau de desmotivação das pessoas é tal que há a possibilidade de termos uma maior taxa de abandono” dos denominados territórios de baixa densidade demográfica, face à probabilidade de os incêndios “poderem repetir-se com mais frequência”, alertou.

Para Carlos Fonseca, não existe em Portugal “qualquer perspetiva de médio e longo prazo” para a floresta.

“Temos excelentes condições para madeiras nobres, como o castanheiro e nogueira”, defendeu, para exortar as entidades públicas e os privados a apostarem na plantação de folhosas diversas, mas também medronheiros e sobreiros, por exemplo, em detrimento do eucalipto e demais espécies de crescimento rápido.

Importa desenvolver no interior “pequenas economias que, no seu conjunto, até fazem uma grande economia”, acentuou.

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