A humilde batata, um dos alimentos mais cultivados e consumidos do planeta, esconde uma história genética improvável que remonta a cerca de 9 milhões de anos.
Segundo uma nova investigação, publicada por uma equipa internacional liderada pela cientista Sanwen Huang, da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas, a batata moderna é o fruto de um antigo evento de hibridização entre dois ancestrais improváveis: um antepassado do tomate e uma planta extinta do grupo Etuberosum — cujo nome, curiosamente, significa “sem tubérculos”.
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A descoberta vem resolver um enigma que há décadas intrigava os botânicos: afinal, de onde vem exatamente a batata? A resposta exigiu tecnologia de ponta e a análise de todo o genoma de 128 plantas diferentes, incluindo 44 espécies selvagens de batata e parentes próximos como o tomate e o Etuberosum. O resultado? Um mosaico genético que revela, de forma clara, que a batata é um híbrido estável e singular.
Apesar de nenhum dos “pais genéticos” produzir tubérculos — esses órgãos subterrâneos que conhecemos como batatas — a fusão dos seus genomas deu origem a essa inovação crucial. A equipa usou ferramentas avançadas, como a edição genética CRISPR, para eliminar genes específicos nas batatas e comprovar a sua importância. Quando certos genes herdados do tomate foram removidos, as plantas começaram a produzir tubérculos nos ramos aéreos. E ao eliminar genes herdados do Etuberosum, as plantas deixaram de formar qualquer tipo de tubérculo.
Este evento genético aconteceu numa altura de mudanças geológicas drásticas, quando a Cordilheira dos Andes se elevava rapidamente. A nova linhagem híbrida, equipada com tubérculos como “pacotes de sobrevivência”, adaptou-se a ambientes hostis, desde pastagens frias a planaltos áridos, permitindo-lhe prosperar e eventualmente espalhar-se pelo mundo.
Hoje, são produzidas cerca de 375 milhões de toneladas de batatas por ano. Mas a planta continua vulnerável a pragas e doenças. O conhecimento agora adquirido poderá ser essencial para desenvolver variedades mais resistentes e nutritivas, pode ler-se no ZME Science.
Mais do que uma curiosidade evolutiva, a origem híbrida da batata é um exemplo poderoso de como a natureza pode, através de encontros genéticos improváveis, criar soluções inovadoras que moldam o curso da história alimentar da humanidade.
Como resume Sanwen Huang: “Finalmente resolvemos o mistério da origem das batatas”. E com isso, talvez tenhamos também aberto portas para o futuro da agricultura.
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