O Banco de Tecidos Oculares (BTOC) da Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra foi criado com a intenção de diminuir em cerca de oito meses a lista de espera do transplante de córneas e ser pioneiro nacional na medicina ocular.
Atualmente, a lista de espera para um transplante de córneas na ULS de Coimbra é de “quase um ano”, mas a expectativa é a de que, com a criação do BTOC, o utente tenha de aguardar “três ou quatro meses” pelo procedimento, explicou hoje aos jornalistas a responsável pela nova estrutura, Maria João Quadrado.
Numa visita pelas instalações, a médica esclareceu que o projeto representa “uma grande inovação em termos da transplantação em Portugal”, sendo o pioneiro, a nível nacional, na cultura e no processamento de uma série de tecidos oculares.
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Os novos procedimentos evitam que os utentes tenham de se deslocar ao estrangeiro para aceder aos cuidados de saúde, como é o caso dos pacientes com queimaduras químicas oculares.
Esta é uma “das situações mais temidas na oftalmologia, com muita dificuldade em termos de tratamento”, mas que a partir de agora pode ser tratada em Coimbra através de um processo de expansão que até então não era realizado no país.
A previsão é de que o BTOC entre em funcionamento dentro de duas a três semanas, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), e Luís Miguel, um paciente daquela unidade de saúde que passou por três transplantes de córnea, acredita que o espaço possa ajudar doentes na mesma situação, em menos tempo.
Natural da aldeia de Aveleira, em Penacova, no distrito de Coimbra, o homem de 50 anos foi diagnosticado com uma doença na formação da córnea e realizou o seu primeiro transplante aos 16 anos, época em que via apenas 10% sem óculos e 40% com.
“Em menos de um ano [da cirurgia], já via a 100% sem óculos”, contou o motorista de pesados.
Um segundo transplante foi necessário aos 21 anos e, apenas em 2024, foi preciso passar por um novo procedimento, devido a uma espécie de “falência” de um dos transplantes, já estando com a visão recuperada na totalidade.
Segundo Maria João Quadrado, atualmente em Portugal é feita “a colheita de tecidos oculares para refrigeração, embora já esteja em funcionamento uma sala no [Hospital de] Santo António [no Porto], que foi a primeira aberta em termos de salas de cultura”.
Agora, o BTOC vai permitir a cultura e o processamento de uma série de outros tecidos oculares que não são feitos em Portugal, além de atuar na cultura de córneas, material que é transplantado em cerca de 150 a 200 doentes por ano na ULS de Coimbra.
A sala permite o processamento de tecidos, onde ocorre a divisão dos mesmos “em várias partes”, destinando cada uma a um doente diferente, apontou a coordenadora.
Com a criação do BTOC, Portugal vai “no sentido da autossuficiência”, defendeu, adiantando que, em 2024, “foram feitos cerca de 1.180 transplantes a nível nacional”, embora o país tenha importado 329 córneas naquele ano.
“Portanto, a criação deste tipo de estrutura pode levar a autossuficiência e inclusive ao fornecimento para o estrangeiro, para a Comunidade Europeia”, reforçou.
O mentor do BTOC, Joaquim Murta, frisou que este espaço “é o futuro”, já que a biotecnologia ou as novas terapias oculares “só podem funcionar com uma estrutura destas”, sendo preciso uma estreita relação entre a ULS, a Faculdade de Medicina e os centros de investigação.
Já o diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS de Coimbra, Rufino Silva, realçou a autonomia em termos de transplantes de córneas, a abertura de um “campo grande para formação” e de os doentes não terem de estar a espera que os tecidos sejam importados.
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