Coimbra
Balsemão: Comunicação social tem de ganhar dinheiro para não perder a independência
Depois da gentil Clara Almeida Santos o ter apresentando como um “Barão dos Media”, o cavalheiro Francisco José Pereira Pinto Balsemão agradeceu o elogio da charmosa Vice-Reitora da Universidade de Coimbra. Modesto, respondeu de imediato que preferia “ser tratado como jornalista que quis ser empreendedor e empresário e continua a ser jornalista”.
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O principal accionista do grupo IMPRESA, que detém meios de comunicação social como o Expresso, Caras, SIC, Exame, Blitz ou Visão, fez esta afirmação na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), onde foi a estrela convidada para mais uma conferência promovida pelo dinâmico Clube MBA-FEUC.
Balsemão falou e conversou durante umas duas horas sobre empreendedorismo e gestão de empresas de media, que no final de contas, apesar da sua especificidade, são como as outras.
Começou por salientar que o seu Expresso foi um caso de empreendedorismo, apesar dessa designação não estar na moda nesses anos 70 como está agora.
Admitiu que a escolha de “sócios de indústria”, não resultou como esperava, o que o obrigou a mudar de gráfica e a entrar no capital de um distribuidora (a VASP, que detém com o grupo do Correio da Manhã), mas encarou esse problema com naturalidade, pois este tipo de situações devem ser encarados dessa forma.
Com indisfarçável vaidade contou que transformou os economistas Patrício Gouveia (morreu com Sá Carneiro) e Fernando Ulrich (do BPI) em jornalistas do Expresso e descobriu os então jovens António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa, que anos depois saiu do Expresso para fundar o o já extinto Semanário.
Ao reconhecer que o Expresso tem perdido vendas em banca e crescido no digital, o fundador da Impresa acredita que “o papel não vai acabar”. O que é preciso é “ver antes qual a etapa seguinte”.
Este militante número 1 do PSD continua a defender o jornalismo livre, a ficção de qualidade. Para salientar que não interfere nos conteúdos editoriais dos seus meios de comunicação social, recordou o tempo em que foi Primeiro Ministro e era atacado sistematicamente atacado pelo seu seu semanário.
Do alto dos seus 78 anos, Balsemão acrescentou ainda, para vincar o seu distanciamento, que a Visão é mais à esquerda e o Expresso mais à direita. “A revista foi mais contra guerra do Iraque, o jornal foi mais a favor”.
Respondendo a uma questão que lhe foi colocada, Balsemão considerou o “Observador é um site. Não é um jornal”. “É um site que concorre com o Expresso Diário” Um equivoco que pareceu premeditado para desvalorizar a concorrência, pois o Observador está registado como jornal.
Elogia a nova Lei que pretende tornar mais transparente a propriedade dos órgão de comunicação social. Numa clara alusão a concorrentes como Público, DN, JN, TSF, Económico, Sol e i, mostrou estupefacção por estes andarem a perder dinheiro durante tantos. Garantiu que só o fazem para ganharem poder, para poderem pressionar, para passarem a mensagem. Mas Balsemão considera que esta legislação não é perfeita, quando, por exemplo, o obriga a declarar quem é “o dono do dono do dono do Fundo de Investimento”, que pode ter origem num paraíso fiscal.
O “barão dos media” lembrou que o importante é não ceder a interesses, mesmo quando grandes grupos económicos cortam a publicidade (o BES fez isso em 2004). Acrescentou que as suas empresas já foram perseguidas por autoridades que supervisional as Finanças, Trabalho e Segurança Social. Conclui que eram os Governos a fazer pressão, mas que ultimamente isso não tem acontecido
Cita um presidente da Google para dizer que a Internet se “transformou numa enorme lixeira”. Onde “circula muita porcaria, a coberto do anonimato”. Por isso, “para separar o trigo do joio”, é necessária a comunicação social, de quem ajude a descobrir a verdade através do desenvolvimento de marcas credíveis, como as suas.
Para reforçar esta tese, recordou que quando rebentou o escândalo Wikileaks, Assange escolher jornais credíveis para disseminarem o que tinha descoberto, método que mais recentemente foi adoptado por Snowden quando também revelou segredos dos americanos.
Balsemão reconhece que as pessoas ainda acham que o que está na Internet deve ser gratuito. Acredita que isso tem de mudar e está a mudar. Alguém tem de pagar o esforço financeiro que as empresas fazem para produzirem os conteúdos.
Confidenciado que também já fez alguma pirataria de conteúdos, o que acha mal e não mais vai praticar, alerta para o facto de às receitas de publicidade é necessário acrescentar, cada vez mais, subscrições de assinaturas digitais e de novos produtos, seguindo a tendência que começa a dar frutos em medias nacionais e estrangeiros.
As empresas de comunicação social não podem perder dinheiro. Se perdem dinheiro, perdem a qualidade, perdem a independência, concluiu Balsemão.
Dezenas de estudantes e alguns economistas, como João Paulo Barbosa de Melo, quase lotaram o auditório da FEUC para participarem na iniciativa do Clube MBA-FEUC.
Pinto Balsemão teve como companheiros de mesa a já citada Clara Almeida Santos, Pedro Brilhante, Presidente do Clube MBA-FEUC e Eduardo Barata, Vice-Presidente da FEUC.
Veja fotografias do evento no Facebook de Notícias de Coimbra. Clique aqui
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