Saúde
Bactéria assassina está a tornar-se resistente a antibióticos (e ameaça espalhar-se por todo o mundo)
Apesar de rara nos países desenvolvidos, a febre tifoide continua a ser uma ameaça significativa no mundo moderno. A doença, causada pela bactéria Salmonella enterica sorovar Typhi (S. Typhi), tem-se tornado cada vez mais resistente a antibióticos, alerta um estudo internacional publicado em 2022 na revista The Lancet Microbe.
Segundo os investigadores, as cepas de S. Typhi extensivamente resistentes a medicamentos (XDR) têm vindo a substituir rapidamente as variantes não resistentes e já se espalharam para diversas regiões fora do sul da Ásia. Desde 1990, foram registados quase 200 casos de disseminação internacional, incluindo no Sudeste Asiático, África, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
“A velocidade com que cepas altamente resistentes de S. Typhi surgiram e se espalharam nos últimos anos é motivo real de preocupação e destaca a necessidade urgente de expandir as medidas de prevenção, principalmente nos países de maior risco”, alerta Jason Andrews, investigador de doenças infeciosas da Universidade de Stanford.
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Atualmente, os antibióticos orais são a única forma eficaz de tratamento, mas a resistência tem aumentado de forma alarmante. As cepas XDR são resistentes a medicamentos de primeira linha, como ampicilina, cloranfenicol e trimetoprima/sulfametoxazol, e começam a mostrar resistência a antibióticos mais recentes, incluindo fluoroquinolonas e cefalosporinas de terceira geração. Hoje, resta apenas o macrolídeo azitromicina como antibiótico oral eficaz, mas mutações que conferem resistência a este fármaco já estão a espalhar-se, ameaçando tornar o tratamento oral ineficaz.
Se não tratada, a febre tifoide pode ter uma taxa de mortalidade de até 20% dos casos. Em 2024, foram relatados mais de 13 milhões de casos em todo o mundo.
Os especialistas alertam que a vacinação é fundamental para prevenir futuros surtos. Vacinas conjugadas contra a febre tifoide podem reduzir significativamente os casos e mortes, especialmente entre crianças em áreas urbanas, como mostrou um estudo realizado na Índia em 2021, que estimou uma redução de até 36% dos casos e mortes com a imunização infantil.
O Paquistão tornou-se pioneiro ao introduzir a imunização de rotina contra a febre tifoide, seguindo-se alguns outros países em fase de planeamento. Até abril de 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pré-qualificou quatro vacinas conjugadas contra a febre tifoide, atualmente incluídas em programas de vacinação infantil nos países onde a doença é endémica.
Os investigadores reforçam que, embora o sul da Ásia seja o principal foco da doença — representando 70% dos casos globais —, a resistência antimicrobiana e a globalização tornam a febre tifoide uma ameaça internacional.
Diante deste cenário, especialistas defendem a expansão global do acesso a vacinas e o investimento em novos antibióticos como medidas urgentes para evitar outra crise sanitária.
Como concluem os autores do estudo: “Não temos tempo a perder”.
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