Aurélio Quintanilha rejeitou terrorismo na criação da Universidade Livre de Coimbra

A violência política nos processos de emancipação das classes populares foi rejeitada por Aurélio Quintanilha na fundação da Universidade Livre de Coimbra (ULC), em 1925, segundo um livro apresentado na quinta-feira à noite.
“A revolução libertadora (…) poderá nunca nascer das cinzas humanas do extermínio e do terror”, afirma o investigador Paulo Archer de Carvalho no prefácio da obra “A Universidade Livre de Coimbra”, que reproduz o discurso que o botânico Aurélio Quintanilha (1892-1987), pai do físico e deputado do PS Alexandre Quintanilha, proferiu na sessão inaugural da ULC.
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Para o impulsionador desta universidade popular, expulso aos 43 anos da docência universitária por Salazar, a “revolução libertadora” apenas se cumpriria em pleno “à sombra da bandeira imaculadamente branca” da tolerância.
“O seu discurso visava sobretudo reconstruir um clima de paz social, exautorando a violência gratuita e reexpedindo as lutas de classes travadas nas ruas, nas fábricas e nos campos, para o lugar da sua intelectualização que a escola, o estudo refletido e a difusão dos saberes poderão propiciar”, defende Paulo Archer.
Num contexto histórico marcado “pela derrisão da I República, a ULC (1925-1933) representou um dos derradeiros programas práticos da militância laica e da livre solidariedade dos intelectuais com o operariado e o pequeno funcionalismo”, refere.
O projeto “obedeceu ao estratégico desiderato de efetiva instrução pública complementar, gratuita, voluntária e demopédica que anima a ação programática das similares universidades populares”, na Europa, desde a segunda metade do século XX.
“Não admira (…) que na sua plural circunstância fundadora convirja dúplice e indesmentível influência republicana e maçónica, concatenada na pedagogia, prática, dos direitos, liberdades e garantias fundamentais da cidadania”, afirma o autor do prefácio.
Para o investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS 20) da Universidade de Coimbra (UC), a ULC materializava “reivindicações populares de acesso das mulheres à escolarização, de educação sexual, de higiene e implementação de infantários, na exigência de construção do ensino técnico profissional e na formação contínua dos formadores”, propostas que a Constituição republicana de 1911 “não asilara”, sublinha.
Professor de botânica da UC, Aurélio Quintanilha “exorcizava o morticínio anarquista” a fim de se “afastar do inflamado bakunianismo libertário que o inculcara na juventude”.
“Subscrevia agora a tese de que o bombismo e o terrorismo indiscriminados corresponderiam afinal a um mesmo holocausto executado ‘nas aras de um deus… ou de uma ideia’”, comenta Paulo Archer.
No seu “apólogo pacifista e conciliador”, Quintanilha enaltece o papel que a ULC deveria desempenhar na “aproximação espiritual entre as fações” em que se encontrava dividida a sociedade portuguesa, em 1925, pouco antes da imposição da ditadura militar, em 1926.
Apresentado pelo cientista Carlos Fiolhais, o livro sobre a Universidade Livre de Coimbra foi editado por iniciativa da Pró-Associação 8 de Maio, com apoio do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro e da União das Freguesias de Coimbra.
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