Saúde
Atenção à música durante a noite… Fones podem prejudicar ouvidos e cérebro

Imagem: depositphotos.com
Os hábitos digitais também transformaram as rotinas de descanso. Cada vez mais pessoas recorrem a auriculares para ouvir música relaxante, podcasts ou conteúdo ASMR (Resposta Sensorial Meridiana Autónoma) como ajuda para adormecer. Embora esta prática possa parecer inofensiva, os especialistas em otorrinolaringologia e neurologia alertam para os riscos que representa para a saúde auditiva e neurológica quando não utilizada de forma adequada.
“Dormir com auriculares implica uma exposição prolongada ao som, mesmo em volume baixo. Isto pode causar desde irritação no canal auditivo até otite externa ou, com o tempo, perda auditiva, especialmente se forem utilizados dispositivos intra-auriculares”, explica Francisco Lorenzo Molina, chefe do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Sanitas Virgen del Mar, empresa ibérica de serviços de saúde que pertence à seguradora Bupa.
Do ponto de vista neurológico, o uso contínuo de auriculares durante a noite também pode alterar a arquitetura natural do sono. “O cérebro necessita de ciclos alternados de sono profundo e leve para desempenhar as suas funções de reparação. A estimulação sonora constante pode fragmentar esses ciclos, comprometendo a qualidade do descanso e afetando a longo prazo a memória, a atenção ou o desempenho cognitivo”, acrescenta Oriol Casals Rafecas, chefe do serviço de Neurologia do Hospital Sanitas Virgen del Mar.
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É verdade que algumas técnicas sonoras podem ser úteis para promover o relaxamento, especialmente em pessoas com dificuldades para dormir. A música, por exemplo, tem demonstrado efeitos positivos no organismo, como a redução dos níveis de cortisol – a hormona responsável pelo stress –, a diminuição da ansiedade e o aumento do bem-estar geral.
No entanto, o problema surge quando estes estímulos se mantêm durante horas sem interrupção ou em volumes inadequados. “O ouvido precisa de períodos de repouso absoluto para se recuperar. Se a cóclea for submetida a estímulos sonoros contínuos, mesmo que ligeiros, podem surgir fenómenos como a acufenos ou zumbidos persistentes”, observa Francisco Lorenzo Molina.
Perante esta situação, os especialistas da Sanitas, empresa ibérica de serviços de saúde que pertence à seguradora Bupa, recomendam algumas medidas para reduzir os riscos e proteger a saúde auditiva:
- Evitar os auriculares intra-auriculares, ou seja, aqueles que são introduzidos diretamente no ouvido. Como alternativa, é recomendada a utilização de auriculares almofadados ou dispositivos externos que não obstruam o canal auditivo;
- Controlar o volume e a duração. É aconselhável manter o som abaixo dos 60% do volume máximo e limitar a sua utilização aos primeiros 30 minutos de sono;
- Higienizar regularmente os auriculares, uma vez que a acumulação de sujidade ou humidade pode favorecer o aparecimento de infeções;
- Promover rotinas sem estímulos tecnológicos. Ler, meditar ou simplesmente evitar ecrãs na hora que antecede o descanso pode melhorar a higiene do sono;
- Programar o desligar automático do dispositivo. Muitos telefones e reprodutores permitem configurar um temporizador para interromper a reprodução após um determinado período, garantindo que o ouvido descansa em silêncio o tempo necessário;
- Optar por sons neutros ou naturais, como ruído branco ou sons da natureza, que são menos invasivos para o cérebro durante o descanso noturno.
“O segredo está em encontrar um equilíbrio: tirar partido dos benefícios que a tecnologia pode oferecer sem alterar os ritmos naturais do corpo. Um uso consciente e moderado ajuda a proteger tanto a qualidade do sono quanto a saúde auditiva e neurológica”, conclui Francisco Lorenzo Molina.
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