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Assaltantes invadem consulado de Portugal no Rio de Janeiro. Diplomata e os seus familiares foram feitos reféns

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 31-10-2021

A residência oficial do cônsul de Portugal no Rio de Janeiro, sede do Consulado, foi invadida na madrugada de hoje e o diplomata, Luís Gaspar da Silva, e os seus familiares foram feitos reféns, disse à Lusa fonte diplomática.

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De acordo com o embaixador de Portugal em Brasília, Luís Faro Ramos, o Cônsul e a sua família já foram libertados e “estão bem”.

O diplomata disse ainda à Lusa que as “autoridades brasileiras estão a tratar do caso”.

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Segundo o jornal O Globo, a Polícia Civil já esteve no local para a realização de perícias.

Aos agentes da polícia, testemunhas disseram que os assaltantes estavam armados e não sabiam que ali funcionava o consulado, acreditando tratar-se apenas de uma mansão.

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Segundo o depoimento de uma vizinha, citada pel’O Globo, todos os reféns foram mantidos numa das divisões da residência sob a vigilância de dois dos assaltantes por cerca de 50 minutos, tendo conseguido levar do local objetos de valor.

A comunidade portuguesa no Rio de Janeiro está solidária com o cônsul, Luis Gaspar da Silva, e familiares, mas não ficou surpreendida com o assalto, disse à Lusa o conselheiro Flávio Martins.

“A comunidade portuguesa, pelo menos os que falaram comigo, está com o nosso cônsul-geral e com a sua família, mas não nos surpreende. Porque isso já é um pouco daquilo a que as pessoas estão sujeitas, infelizmente, no Brasil e, particularmente, no Rio de Janeiro. Claro que assusta e preocupa a qualquer um, mas não nos surpreende, porque sabemos que a maior parte da comunidade já deve ter passado por uma experiência idêntica, em casa, na rua ou no seu carro”, disse.

Flávio Martins, presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) e residente no Rio de Janeiro, lamentou o crime ocorrido no bairro de Botafogo, na madrugada de sábado.

No assalto “não houve nem exercício de violência, nem feridos, mas foram furtados vários bens pessoais do nosso cônsul-geral no Rio de Janeiro”, detalhou à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

“Todos estamos solidários e esperamos que isso não lhes cause um dano muito grande, no sentido psicológico, e que saibam que o Rio de Janeiro é uma cidade boa e acolhedora, apesar de ter todas essas questões que talvez existam em todas as grandes cidades, mas que no Rio de Janeiro acabam por acontecer mais vezes”, afirmou.

“Eu imagino, por exemplo, o choque que tudo isto pode ter sido para a nossa consulesa, que está há bem menos tempo aqui no Rio de Janeiro, e até para o próprio cônsul, apesar de já estar no Brasil há mais de meio ano. É um péssimo cartão de visita que se dá a essas pessoas. Contudo, é bem mais comum do que o que se possa imaginar”, revelou.

Apesar de não ter muitos detalhes do que aconteceu durante o assalto, Flávio Martins sabe que os assaltantes imobilizaram os seguranças e, consequentemente, conseguiram entrar na residência “e ficaram ali horas, à procura de objetos valiosos que pudessem levar”, “prenderam o cônsul e a família num quarto durante algum tempo, havendo, portanto, uma situação de tortura psicológica”, que “poderia ter terminado até pior”.

Mesmo reconhecendo várias qualidades à ‘cidade maravilhosa’, o conselheiro admite que o Rio de Janeiro padece de problemas estruturais, que se refletem no aumento do crime e da violência.

“O Rio de Janeiro é uma cidade imensa, com muitos problemas sociais, muitas assimetrias. (…) porque tem uma característica em que não há bairros com determinadas classes sociais, há uma mistura muito grande e ali a região de Botafogo, onde se encontra o Palácio de São Clemente [Consulado de Portugal], é exemplo disso. Ali há moradias de classe média alta e há também, nas encostas, inclusive nas traseiras do consulado, uma comunidade muito carente, que é a favela do Morro de Santa Marta”, detalhou.

Tendo isso em conta, o presidente do CCP não acredita na versão de que os assaltantes não saberiam que estavam a assaltar o consulado, conforme relataram testemunhas.

“Eu acho que eles sabiam muito bem onde estavam a entrar e, por saberem, talvez quisessem euros ou alguma coisa assim, até porque o câmbio está hoje muito favorável ao euro (um real brasileiro equivale a 6,51 euros) e, provavelmente tivesse sido um chamariz para os assaltantes”, indicou.

A situação causa alguma perplexidade, segundo Flávio Martins, até porque “a cerca de 100 metros” está uma das sedes da prefeitura do Rio de Janeiro, que é o Palácio de São Joaquim: “Se entraram no Consulado, poderiam ter entrado, inclusive, num dos Palácios da prefeitura, onde o prefeito atende”.

“É uma cidade com muita insegurança social ainda e, talvez, agravada por toda esta situação [pandemia de covid-19], porque a economia no Brasil também não anda boa e uma coisa pode repercutir na outra, o que não justifica [o crime], mas talvez nos faça entender um pouco disso tudo”, advogou Flávio Martins.

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