Opinião

As estatísticas da guerra, não incluem as condolências

OPINIÃO | Angel Machado | 4 minutos atrás em 21-06-2025

Voltei a ser pontual para escrever uma história de audácia e melancolia. Audácia, porque corro o risco de assistir ao fim do mundo pela televisão; e melancolia, porque os clichês fazem-me sentir, ao fim da tarde, como Cesário Verde. Quando somos obsessivos por algo, é natural que os outros pensem que podemos estar a um passo da loucura. Mas, a loucura — seja ela individual ou coletiva —, é um estado de espírito ao qual nos acostumamos com facilidade.

As “pequenas” excentricidades, como quebrar uma cadeira num museu — a de Van Gogh, no Palazzo Maffei, em Verona —, ou leiloar uma “Birkin Original” da Hermès, em Paris; ou ainda, a possibilidade de um ataque americano ao Irão. A pontualidade não é um desenho impressionista, mas as mensagens do dia passam pelas veleidades de quem olha o relógio do mundo.

Sou capaz de me iludir para tomar café com açúcar, pão com manteiga e um “mamãozinho” ao pequeno-almoço, com o jornal aberto — mera convenção. A ilusão é necessária neste contexto, porque eu não quero justificar a minha loucura.

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A indignação humana não é efetiva; demonstra apenas consternação. Mas onde estão os homens e as mulheres que promovem a paz? Onde vivem? O que fazem, com os seus nomes inscritos na encíclica do evangelho?

Parem as guerras. Aos que morrem sem nome, e que não têm laço sanguíneo com a minha família, embrulhados em tecidos branco-amarelados, a humanidade fica devedora dessas vidas que se perdem.

Nasce-se humano, mas a guerra amordaça o corpo e amputa a história de cada homem / mulher que caem no campo de batalha. Regressa-se a casa numa caixa de pinho. A guerra mata a afetividade, brutaliza a ternura. As estatísticas da guerra, não incluem as condolências.

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