Desporto

 Artur Jorge: O homem do futebol que gostava de “coisas bonitas”

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 meses atrás em 22-02-2024

Imagem: D.R.

Primeiro treinador português a sagrar-se campeão europeu, orientando o FC Porto, Artur Jorge morreu hoje, aos 78 anos, após uma vida ligada ao futebol, como jogador e técnico, que o levou também à liderança da seleção nacional.

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Nascido no Porto, em 13 de fevereiro de 1946, Artur Jorge foi um sucessor à altura do lendário José Maria Pedroto no banco do FC Porto, contribuindo, sob a tutela do presidente Pinto da Costa, para a ‘emancipação’ do clube, que teve como zénite a conquista da Taça dos Campeões Europeus em 1987, derrubando um colosso chamado Bayern Munique.

Se é verdade que o maior sucesso surgiu depois de pendurar as chuteiras, levando o clube portuense a declará-lo hoje “tão inesquecível como aquela noite de Viena”, Artur Jorge viveu muitos momentos de glória dentro dos relvados, como um dos grandes avançados portugueses, e a sua vida não pode reduzir-se ao desporto.

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Formou-se em Filologia Germânica, escreveu poesia, tendo publicado um livro (Vértice da Água, em 1983), cultivava o gosto por arte e música clássica e nunca escondeu o fervor revolucionário, mesmo antes do 25 de abril, tendo-se tornado o primeiro presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol.

Aquelas características faziam de Artur Jorge uma ave rara no mundo do futebol e acentuavam a incompreensão, em especial nos momentos das derrotas. Gostava de “coisas bonitas” e nunca perdeu a oportunidade de o dizer. Hoje, o organismo sindical agradeceu-lhe: “Descanse em paz Artur Jorge, obrigado pelas coisas bonitas”.

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Como muitas crianças do seu tempo, ganhou o gosto pela modalidade a jogar nas ruas da cidade, mas, aos 18 anos, já dava o salto para a equipa principal dos ‘dragões’, estreando-se num jogo da Taça de Portugal de 1964/65, frente ao Peniche, e logo com um golo marcado.

Na época seguinte rumou à Académica, o que lhe permitiu conciliar a formação universitária com o futebol, firmando-se como um dos avançados portugueses mais promissores e despertando a cobiça do Benfica, que o foi buscar em 1969. Continua a ser o quarto melhor marcador da equipa de Coimbra, com 94 golos.

Em Lisboa, jogou seis temporadas ao lado de Eusébio e conquistou os títulos mais relevantes como futebolista, sagrando-se campeão nacional em 1971, 1972, 1973 e 1975 e erguendo duas vezes a Taça de Portugal (1970 e 1972), cotando-se como o melhor marcador dos campeonatos de 1971 e 1972.

Deixou o Benfica com o respeitável registo de 104 golos apontados em 131 jogos, terminando a carreira aos 31 anos, numa pouco memorável passagem pelos norte-americanos do Rochester Lancers, após três épocas no Belenenses, que o ajudaram a colocar-se como o 15.º melhor marcador de sempre da Liga portuguesa, com 160 golos.

A história na seleção portuguesa foi mais curta, com 16 internacionalizações e um golo, mas teve oportunidade de a prolongar com duas passagens pelo cargo de selecionador, entre 1990 e 1991 e entre 1996 e 1997, ainda que sem grande sucesso, falhando as qualificações para o Europeu de 1992 e o Mundial de 1998.

Como treinador mostrou-se mais ‘aventureiro’, orientando 14 clubes e três seleções – além da equipa das ‘quinas’, foi também selecionador da Suíça e dos Camarões -, nos quais conquistou 13 títulos e se sagrou campeão em três países: Portugal, França e Arábia Saudita.

Começou como adjunto de Fernando Peres e José Maria Pedroto no Vitória de Guimarães, em 1980/81, acabando por suceder ao ‘mestre’ no FC Porto, em 1984/85, após passagens como técnico principal no Belenenses e no Portimonense.

Foi no clube ‘azul e branco’, em dois períodos (entre 1984 e 1987 e entre 1988 e 1991), que viveu os momentos mais altos da carreira como treinador, sagrando-se campeão nacional em 1985, 1986 e 1990, conquistando a Taça de Portugal em 1991, além de três edições da Supertaça.

A apoteose chegou em 27 de maio de 1987, em Viena, quando o FC Porto, sem ‘pedigree’ europeu, contrariou o favoritismo quase absoluto do Bayern Munique e a vantagem de 1-0 dos alemães ao intervalo, para se impor por 2-1, com golos memoráveis Madjer e Juary, e erguer pela primeira vez a antecessora da Liga dos Campeões.

Artur Jorge tornava-se o primeiro técnico português a cometer semelhante proeza e isso abriu-se as portas do futebol francês, assumindo a liderança do Matra Racing, sem particular êxito, regressando a casa, para um segundo fôlego no FC Porto, do qual ainda é o segundo treinador com mais troféus conquistados, com oito, apenas superado por Sérgio Conceição, que venceu 10.

O Paris Saint-Germain, ainda longe de se assenhorear do futebol francês, promoveu o seu regresso ao país em 1991/92, e ganhou com isso uma Taça de França, em 1993, e um campeonato, em 1994 (Artur Jorge voltou à Cidade Luz em 1998/99, mas resumiu-se à vitória na Supertaça francesa).

Após ter reescrito mais uma vez a história, ao tornar-se o primeiro técnico português a sagrar-se campeão de um dos chamados ‘big 5’, reencontrou-se com o Benfica em 1994/95, mas a estada não foi tão afortunada quanto a anterior, como jogador, acabando por ser dispensado no início da época seguinte.

Se a carreira prosseguiu por mais duas décadas, a era dourada de Artur Jorge tinha chegado ao fim e as várias seleções e clubes – entre os quais um regresso emocionado à Académica, em 2002/03 – que comandou posteriormente pouco acrescentaram ao currículo, resultando apenas em um título saudita, no Al Hilal, e em uma Supertaça russa, no CSKA Moscovo.

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