Coimbra

Arganil prepara regresso do Rally de Portugal com boa dose de nostalgia

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 29-05-2019

O Rali de Portugal está de volta a Arganil, 18 anos depois, e a população vive com expectativa e uma boa dose de nostalgia o regresso da competição que transformava a serra “numa árvore de natal”.

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No concelho do interior do distrito de Coimbra, toda a gente se lembra da romaria que se fazia até à Serra do Açor para ver os Lancia, Datsun e Fiat a andar pelos troços difíceis que ladeavam aquelas montanhas.

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Em 1974, grande parte da serra nem eletricidade tinha e eram os faróis dos carros de competição e as fogueiras que os espetadores faziam durante a noite que iluminavam as montanhas, num troço que chegava aos 40 quilómetros, recorda Fernando Pais, natural de Mouronho, aldeia de Tábua na fronteira com Arganil.

“A serra parecia uma árvore de natal”, disse à agência Lusa o historiador, de 57 anos, que, devido à passagem do Rali de Portugal por lá, ganhou o “bichinho do rali” e chegou a competir na prova, com um Nissan Micra.

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No regresso da competição, na sexta-feira, a Arganil, que ganhou a alcunha de ‘Capital do Rali’, parte da população promete não ficar por casa e deve voltar a fazer o mesmo percurso de há 20 ou 30 anos para ver a prova que marcou uma geração de jovens que cresceu a ver o Rali de Portugal.

“Houve uma geração que ficou marcada pelo rali”, salienta Pedro Carvalho, residente de Arganil, que ainda guarda com carinho os autocolantes, t-shirts e postais que foi colecionando de diferentes equipas que por lá passaram e que ajudava a bloquear troços para os treinos.

Recorda-se bem dos Fiat 124, do na altura jovem Markku Álen, de Ari Vatanen, da primeira vez que viu um Audi pela serra, do Volvo de Henri Toivonen, ou de Franz Wittman a dar uma volta de reconhecimento no seu carro à vila de Arganil, fazendo as delícias dos mais novos.

Sem internet, no interior, “ver aquelas máquinas todas era qualquer coisa de incrível”, sublinha o bancário de 52 anos. Na sexta-feira, não ficará em casa, garante.

“Quero reviver um bocado o antigamente e ver todas aquelas estrelas a passar”, conta à Lusa Pedro Carvalho.

Francisco Vasconcelos, funcionário da Câmara de Arganil, também nunca perdeu a ligação ao rali: “Fiz tudo menos conduzir”.

Lembra-se de subir de motorizada a serra, de acompanhar os treinos, assim como dos momentos de convívio com os pilotos que hoje dificilmente acontecem.

“Às vezes, os pilotos, no final dos testes, levavam-nos numa volta de três quilómetros, num andamento a 80%. Mas, para nós, 80% já era uma coisa do outro mundo”, sublinha.

O aficionado do rali, de 65 anos, acredita que é possível Arganil voltar a ser conhecida como a ‘Capital do Rali’.

“No fundamental, é necessário que toda a gente se porte bem e que respeite as orientações que são dadas pela organização no capítulo da segurança”, vinca.

Alice Pereira, de 70 anos, a morar nas Luadas, localidade que diz ser onde se tem “a melhor vista do Rali”, lembra-se bem dos excessos.

“Aquilo era um arraial”, com as pessoas a acenderem fogueiras e a assarem febras e a beberem noite dentro, conta.

Nos últimos fins de semana, por Luadas, já se sente o aproximar do Rali de Portugal, com muitos adeptos a pararem naquela pequena localidade à procura de saber onde é o troço e as zonas de espetáculo, afirma o proprietário do café da aldeia, Arlindo Dias.

“Arganil não se esqueceu da marca de ‘Capital do Rali’. As pessoas têm na memória as provas de há 20 ou 30 anos e isso marcou uma geração”, salienta o presidente da Câmara de Arganil, Luís Paulo Costa, que admite também ter ficado com o “bichinho do rali” dos tempos em que, com 14 ou 15 anos, subia à serra para ver as provas.

“Foi com algum saudosismo que andámos a batalhar para ter o regresso do Rali de Portugal à região”, vinca, considerando que, mais do que o impacto imediato é o facto de ser “um dos mecanismos mais eficazes para a promoção do território fora de portas”.

As cerca de 350 camas da hotelaria do concelho disponíveis ficaram logo esgotadas assim que a prova foi confirmada, mas Luís Paulo Costa aposta nos dividendos que se possam colher a longo prazo.

Fernando Pais apenas espera que seja possível manter a prova em Arganil e que tudo corra bem, no que à segurança diz respeito.

Apesar de viver em Coimbra, na sexta-feira, estará pela Serra do Açor, juntamente com os amigos de infância que, como ele, cresceram a admirar as máquinas e os pilotos do Rali.

“Vou com muita alegria e com muita expectativa”, diz o antigo piloto, que ainda se recorda de ver Henri Toivonen a fazer piões à frente de uma discoteca.

Sobre a ligação do rali à região, Fernando Pais socorre-se do seu trabalho como historiador para dizer que é algo que está nos genes das pessoas daquele território.

“Em 1917, dois soldados de Tábua [concelho vizinho de Arganil] foram apanhados em França, por autoridades portuguesas, em velocidade excessiva no carro que lhes tinha sido atribuído. Apanharam 15 dias de suspensão. O gosto pela velocidade já lá estava”, conta.

A cerimónia de partida do Rali de Portugal decorre na quinta-feira, sendo que na sexta-feira a competição passa pelos concelhos de Arganil, Góis e Lousã.

O Rali de Portugal termina a 02 de junho

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