Na pitoresca vila de Lanjarón, na Andaluzia, morrer é tecnicamente ilegal — não como metáfora poética, mas por força de um decreto municipal de 1999.
A decisão, tomada pelo então presidente da câmara, José Rubio, surgiu como resposta desesperada (e criativa) a um problema real: o cemitério da localidade estava lotado e não havia espaço para novos sepultamentos.
PUBLICIDADE
Sem uma solução imediata e enfrentando a inércia das autoridades regionais, Rubio assinou uma medida inusitada: proibiu oficialmente a morte no município. “Fica por este meio proibido morrer em Lanjarón”, declarou o autarca, num decreto que se tornou rapidamente viral — muito antes da era das redes sociais, pode ler-se no ZAP.
O objetivo era claro: chamar a atenção pública e institucional para o problema. “Sou apenas um presidente de câmara”, justificou Rubio. “Acima de mim está Deus, que é quem gere estas coisas”. Ainda assim, recomendou que os habitantes cuidassem bem da saúde até que fosse encontrada uma solução — ou seja, não morressem enquanto a câmara não resolvesse o assunto.
Mais de duas décadas depois, o problema continua por resolver. O cemitério de Lanjarón mantém-se o mesmo, sem grandes alterações, e a morte segue oficialmente desaconselhada na vila. Curiosamente, Lanjarón é também famosa pelas suas águas minerais e tradição termal, o que talvez ajude os moradores a viverem mais tempo… e a não infringirem a “lei”.
Nos últimos tempos, a vila voltou a ser falada nas redes sociais, especialmente no TikTok, como um destino de bem-estar, com a proibição da morte a reaparecer em páginas de memes e blogues de viagem.
Lanjarón não está sozinha neste tipo de medidas simbólicas: várias localidades em França, Itália, Brasil e até no arquipélago de Svalbard (Noruega) adotaram proibições semelhantes ao longo dos anos — sempre como forma de protesto contra a falta de espaço em cemitérios.
Na vila espanhola, no entanto, a lei continua no papel — e sem solução à vista. Por enquanto, Lanjarón mantém-se como o único lugar do mundo onde morrer não é só triste… é ilegal.
PUBLICIDADE