Coimbra

António faz contas à vida para manter rebanho de cabras em aldeia que esteve  cercada pelas chamas

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 27-07-2020

Em Vale da Cuba, um lugar com cinco casas e sete habitantes, situada no concelho de Oleiros, distrito de Castelo Branco, António Farinha pastoreia o seu rebanho de 45 cabras no único espaço verde que resistiu a duas noites de chamas.

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Tudo o resto, em redor, ficou reduzido a cinzas. Ainda se vê o fumo e pequenas labaredas a sair da floresta.

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“Foram duas noites de inferno. Houve uma projeção e a floresta da povoação ardeu toda. Na minha lembrança, isto ardeu tudo em 1979, em 2000, 2011 e, agora, em 2020. É a quarta vez”, explica este pastor à agência Lusa.

António Farinha trata cada uma das 45 cabras do seu rebanho pelo nome próprio e os animais obedecem-lhe a cada ordem ou repreensão como se de um catraio se tratasse.

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“Agora, isto vai ser muito complicado para manter as 45 cabras. Não há pasto para o gado. Aquilo que tenho está armazenado para o inverno. Se começar a por agora o alimento como é que vou fazer?”, questiona.

O pastor, emocionado, continua a conversa, em jeito de desabafo: “Cada vez estou mais pobre. Nada melhora. Quando é para arder, arde mesmo”.

Para este pastor, a culpa é da falta de gente para tratar das terras e para as cultivar.

“O que era cultivado antigamente, hoje é só silvas. É pólvora. O país também perde e muito. Correm com as pessoas de cá para fora e não há mais gente. Só há silvas e mato”, frisou.

António mostrou-se ainda indignado com a declaração que o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, fez na televisão.

“Podia [ministro] ter utilizado outras palavras. Disse com uma certeza que Portugal inteiro ouviu que isto ia arder até quarta-feira. Não digo mais nada”, rematou.

António continua convencido de que os fogos continuam a ser “propositados”.

“Tenho essa ideia. Isto continua a ser um jogo mal explicado”, concluiu.

Vale de Cuba foi um dos lugares, juntamente com Vale da Lousa e Pedintal, que estiveram em risco efetivo por causa do incêndio que lavra deste sábado no concelho de Oleiros e que se estendeu aos concelhos de Proença-a-Nova e Sertã.

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