Política

 André Ventura ouviu Fátima a pedir-lhe para “deixar de ser racista” com os ciganos 

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 22-01-2022

A arruada do Chega em Braga foi interrompida por uma mulher cigana que pediu a Ventura para “deixar de ser racista”, com o líder do Chega a alegar que “muitos ciganos” não trabalham, apesar de estudos apontarem no sentido contrário.

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“Não pode ser racista para os ciganos, que somos seres humanos como os outros. Todos trabalhamos”, disse Fátima Romero, que decidiu furar a comitiva do Chega, com algumas dezenas de pessoas, para confrontar André Ventura.

O líder do Chega insistiu que não é racista e que o que o seu partido quer é “que os ciganos trabalhem” como “todos os outros”.

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“Mas nós trabalhamos. A sua etnia também tem uns que trabalham e outros que não trabalham”, respondeu a mulher, de 58 anos.

“Sabe que isso não é verdade”, contrapôs André Ventura, insistindo que “há muitos ciganos que não trabalham”, apesar de um estudo de 2015 encomendado pelo Alto Comissariado para as Migrações concluir que a maioria das pessoas daquela etnia trabalha e de um relatório do Instituto da Segurança Social de 2008 referir que apenas 3,9% das famílias beneficiárias de Rendimento Social de Inserção (RSI) à época eram de etnia cigana.

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“O cigano é um ser humano como outro qualquer. Há ciganos doutores, há ciganos médicos, há ciganos a trabalharem como assistentes sociais”, retorquiu Fátima, salientando que estes também pagam impostos e cumprem as regras.

Aos jornalistas, Fátima disse que decidiu confrontar Ventura para que este “não fosse tão racista”.

“Há muito cigano que põe os seus impostos. Um feirante tem que pagar impostos, tem que pagar à Segurança Social. Todos temos que pagar”, vincou.

Questionada sobre se recebe RSI, referiu que não recebe, mas que se recebesse “era como todos os outros”.

“Quantos ciganos recebem? As outras pessoas também recebem. Às vezes, vou aos correios e vejo mais pessoas da vossa etnia a receber o RSI do que da nossa. O que não queremos é ser discriminados. Queremos alugar uma casa e não nos alugam porque somos ciganos. Pedimos emprego e recusam porque somos ciganos. Temos que ter os direitos que outra pessoa qualquer tem. O racismo tem que acabar”, frisou.

No final, disse que vai votar e que já está bem esclarecida sobre para quem vai o seu voto: “no senhor António Costa”.

Durante a arruada, André Ventura foi também foi confrontado por Armando Veloso, que pediu mais meios para os cuidadores informais, tendo o líder do Chega prometido que a questão ia ser prioritária após as eleições, apesar de o programa e o documento de 100 medidas do partido serem omissos relativos ao tema.

“Sinto-me revoltado, porque há uma série de vontades, de diplomas, de projetos-piloto, e realmente as pessoas precisam de ajuda, porque é desgastante”, disse Armando Veloso.

Na arruada pelo centro histórico do Braga, André Ventura seguia ao sabor das indicações da comitiva, que procura sinalizar possíveis simpatizantes pelo caminho, que ou acenavam ou aceitavam os panfletos do partido e aguardavam de telemóvel na mão pela sua passagem.

Com muitos palavras de ordem e dois bombos a marcar o ritmo, o presidente daquele partido de extrema-direita recebeu muitos cumprimentos, com alguns abraços calorosos pelo meio, parou várias vezes para ‘selfies’, mas o contacto com a população foi quase sempre passageiro e com pouca conversa à mistura.

Durante a arruada, houve também quem fizesse questão de marcar a sua oposição perante o Chega, chamando a comitiva de “fascistas”.

Logo no arranque, a arruada foi recebida por um conjunto de pessoas que cantou o “Grândola Vila Morena”.

“Eu tenho medo que aquele senhor seja a terceira força política deste país. As pessoas têm que votar em massa na esquerda porque com aquele partido não vamos a lado nenhum”, disse Silvana, de 47 anos, uma das pessoas que entoou o “Grândola Vila Morena”.

Houve quem rasgasse o folheto do Chega assim que o recebesse ou quem o deitasse para o lixo.

“Como é que tanta gente o apoia”, questionava, perplexa, uma jovem sentada numa das esplanadas do centro de Braga, logo depois de recusar um folheto.

Um homem, que apenas abanava a cabeça em sinal de reprovação, disse à Lusa que caso a direita ganhe as eleições Portugal está “desgraçado”.

“Rui Rio é o armador, o Francisco Rodrigues dos Santos é o coveiro e este [André Ventura] é o enterra”, disse.

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