O músico C4 Pedro contou à Lusa que lançou o álbum “Ancestralidade” após um despertar de consciência, explicando que o projeto reorienta a sua arte para venerar valores espirituais e a essência cultural africana.
Em entrevista à agência Lusa, o artista angolano explicou que o seu novo álbum “Ancestralidade”, lançado em 21 de outubro, é como uma oração e um veículo para venerar valores espirituais africanos, resultando numa profunda mudança de perspetiva para o cantor que sempre teve “uma ligação muito forte” com a espiritualidade.
“Eu tive uma espécie de despertar da minha consciência logo no princípio do ano e acabei por ver as coisas, as pessoas e o mundo de uma forma totalmente diferente”, contou C4 Pedro, músico com 18 anos de carreira profissional, acrescentando que este “despertar” acabou por influenciar a sua “forma de compor, de cantar, de sair e estar”.
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O cantor afirmou que esta introspeção redefiniu as suas prioridades e a sua arte, deixando de procurar a validação externa para se concentrar na sua verdade mais profunda.
“Percebi o que é o mais importante e, para mim, o mais importante não é o meu futuro, é o meu passado. Isto é que vai definir aquilo que eu serei mais à frente, independentemente de que futuro eu terei”, sublinhou.
O conceito de “Ancestralidade”, que dá nome ao álbum, reflete a nova identidade do artista e o simbolismo do elefante (Nzamba, em Kimbundo), inspirando o nome Nzamba Nkunku Mpételo Messami, com que assina o projeto. Este nome, que significa “elefante mensageiro”, expressa a união entre memória, sabedoria e espiritualidade, enraizando a sua criação na tradição de Mbanza Kongo e do norte de Angola.
As característica do elefante – memória, resiliência, longevidade e sabedoria – manifestam-se como símbolos da ancestralidade do conhecimento e da ligação às origens.
O artista explica que o Nzamba é “o ancião da floresta, aquele que traz o conhecimento e a memória ancestral”, refletindo o papel que ele próprio assume neste trabalho: o de mensageiro e guardião da herança cultural do seu povo.
“O elefante não se esquece acima de tudo de onde ele vem, e esta é a mesma memória que eu trago neste álbum”, destacou.
O artista defendeu que o verdadeiro avanço requer um regresso à origem e à memória.
O projeto também é um convite à introspeção, sugerindo que as respostas para os dilemas da vida já existem.
“Eu percebi rapidamente que andei à procura de respostas para todas as situações da minha vida, enquanto que as verdadeiras respostas, eu já as tenho”, disse.
O abandono do nome artístico anterior e o foco nas suas raízes do Norte de Angola representam a decisão de parar de adaptar a sua arte para ser mais facilmente aceite.
Para C4 Pedro, o seu nome português – Pedro Henrique Lisboa Santos – não traz a sua história e a sua essência, mas sim uma história que começa na época colonial.
“Se eu não recuar, eu não estou a trazer para Portugal, nem para a minha vida, nem para ninguém, aquilo que é a verdadeira essência do meu povo”, explicou o cantor.
Mpételo Messami assume a missão de trazer a “verdadeira essência do povo africano, sem corantes nem conservantes” ao público global.
Musicalmente, “Ancestralidade” é uma fusão de sons profundamente enraizados na cultura angolana com a eletrónica moderna. Esta mistura de tradição com elementos contemporâneos serve o propósito de o artista comunicar a sua mensagem a um público mais amplo e jovem, mantendo a autenticidade.
“Eu nunca vos trouxe realmente a África, nunca vos trouxe a minha verdade, trouxe um pouco da minha vaidade” declarou o cantor, acrescentando que traz nos dias atuais “a verdadeira essência do povo africano” ao apresentar-se “totalmente livre”.
Ao equilibrar a melancolia da reflexão com a energia das batidas eletrónicas, C4 Pedro acaba “por trazer aqui um equilíbrio entre a tristeza e a celebração da mesma”.
O álbum convida à celebração da jornada, mesmo nas dificuldades, reforçando que não se consegue “encontrar um vencedor sem encontrar alguém que venceu a dor”.
Segundo o artista, o álbum é uma mensagem em nome de todos os africanos, mostrando a força ancestral, a beleza de toda a “África através da música e da frequência”.
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