Crimes

Amigo de triplo homicida disse que fugiu ao primeiro tiro com medo de perder a vida

Notícias de Coimbra com Lusa | 6 minutos atrás em 13-11-2025

Um amigo do homem acusado de triplo homicídio numa barbearia de Lisboa afirmou hoje que fugiu após o tiro na primeira vítima por recear pela própria vida, uma vez que o arguido é instável devido a doença mental.

Hugo P., que foi criado com a família do arguido, que considera como um irmão, foi a sexta e última testemunha ouvida hoje, no primeiro dia do julgamento do acusado pelo triplo homicídio ocorrido numa barbearia na freguesia da Penha de França, em Lisboa, em outubro de 2024.

No dia em que Fernando S. matou o barbeiro Carlos Pina, de 43 anos, e os taxistas Bruno e Fernanda, com 34 e 36 anos, a testemunha Hugo P. disse que entrou na barbearia “Ganda Pente” para cumprimentar quem estava, enquanto acompanhava o acusado, que só queria cortar o cabelo.

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Ao contrário de outros testemunhos, Hugo P. negou que tenha havido qualquer discussão entre o arguido, que “estava normal”, e a primeira vítima, o barbeiro Carlos Pina, e negou ainda que com eles estivesse também o pai do arguido.

Foi então que ouviu um tiro: “Virei-me e vi o Pina no chão, entrei em pânico e fugi”, contou, sublinhando que já não estava no local quando ouviu mais disparos – “dois, três, quatro, sei lá” -, mas sem saber para quem foram dirigidos.

Hugo afirmou que antes do ocorrido tinha ido, com o pai do arguido, pela hora de almoço, buscar Fernando S. a um restaurante no Saldanha, onde estaria a “armar confusão”, depois de um pedido da mulher deste.

Segundo esta testemunha, Fernando S. estava sempre acompanhado por alguém da família por ter sido diagnosticado com esquizofrenia paranoide há cerca de cinco anos, quando tinha 28 anos de idade, porque, quando não está medicado, é um perigo para si e para quem lhe era próximo, tornando-se “agressivo, desconfiado”.

“Em casa não havia facas. Escondíamos tudo (…) A gente já sabia que ele ia matar alguém. Ou a mulher ou ele próprio. Infelizmente acabou assim”, disse, sublinhando que a família sofria com a doença do arguido, que tentou matar-se atirando-se de uma janela e outra vez conduziu o carro contra uma parede.

Apesar de estar sempre acompanhado por familiares, Hugo P. disse desconhecer que o arguido tinha uma arma à disposição, nem sabe onde a terá arranjado.

A doença mental do arguido foi explorada pela defesa, mas a juíza, que leu os factos ao acusado, salientou que este tinha demonstrado “capacidade suficiente para ser cauteloso nas respostas” e “capacidade cognitiva para compreender os factos”, depois de, durante a sua identificação perante o tribunal, Fernando S. ter dito não saber o seu nome completo, nem o do seu pai, afirmando que o nome da sua mãe é Maria.

Uma avaliação à situação psiquiátrica do arguido foi pedida pelo tribunal de instrução criminal, mas os peritos consideraram-no capaz de distinguir o bem e o mal.

O tribunal ouviu também dois trabalhadores de uma lavagem de carros em frente à barbearia, onde as vítimas Bruno e Fernanda tinham deixado os táxis a lavar. Um deles, José Carlos Belo, viu o tiro e a queda de Bruno, a segunda vítima, mas já não viu a morte de Fernanda, porque entretanto se baixou enquanto tentava fugir.

O coletivo ouviu ainda um jovem morador no mesmo prédio do arguido, que viu Fernando S., o pai (que tem o mesmo nome) e Hugo P. a fugir no carro, após os crimes (o que foi negado por Hugo, que disse que se ausentou durante um tempo com medo de represálias dos vizinhos).

Este jovem disse ainda que viu Fernando S. a guardar a arma numa ‘pochete’ e afirmou que os vizinhos, que entretanto se juntaram às janelas, foram ameaçados pela mãe do arguido: “Vocês são os próximos”, terá dito.

Uma outra testemunha que se encontrava com amigos numa mesa próxima à do arguido num restaurante, antes dos crimes, confirmou que este tentou provocá-los, “arranjar confusão” e dizia coisas sem sentido, a que não responderam.

“Acho que o nosso silêncio salvou-nos naquele momento”, disse esta testemunha, que afirmou ainda ter, a dado momento, olhado para trás, na direção do arguido, quando o viu com uma arma.

A primeira testemunha a ser ouvida hoje foi Fábio F., barbeiro que trabalhava com Carlos Pina há quatro anos, que contou que uma discussão começou com a exigência do arguido em ter um corte de cabelo, o que lhe foi negado, porque o dono da barbearia disse que primeiro queria almoçar.

Fábio disse ainda que não se lembra de ver a arma, apenas o gesto do arguido com o braço a apontar primeiro à cabeça de Carlos Pina, depois à de Bruno, os estrondos, e as vítimas a cair.

Quanto a Fernanda, esta não estava no seu campo de visão, pelo que só ouviu o tiro.

Este barbeiro sobreviveu ainda a uma tentativa de homicídio, quando o arguido disparou contra ele, mas atingiu a montra da loja.

Disse ainda que, antes de conseguirem fugir, tentou proteger o cliente que estava a atender, um jovem de nacionalidade colombiana, que “chorava muito, o que é normal”.

Hoje, Fábio disse que toma medicação para a ansiedade e tem receio pela sua vida e a da família.

O pai de Fernando S. optou por usar o direito de não testemunhar contra o filho.

Devido a terem receio dos familiares do acusado, todas as testemunhas, à exceção de Hugo P., optaram por testemunhar sem a presença do arguido ou familiares.

O julgamento continuará na próxima quinta-feira, com o depoimento da mãe de Fernanda, a terceira vítima, que se constituiu como assistente no processo.

Todas as vítimas deixaram filhos menores e Fernanda estava grávida.

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