Um conjunto de novos estudos científicos está a lançar um alerta global: o cancro do apêndice, uma doença extremamente rara, está a crescer de forma acentuada e inexplicável entre as gerações mais jovens.
A investigação, conduzida maioritariamente nos Estados Unidos, mostra que membros da Geração X e Millennials têm três a quatro vezes mais probabilidade de serem diagnosticados com este tipo de cancro do que as gerações anteriores.
Tradicionalmente associado a pessoas mais velhas, o cancro do apêndice está agora a surgir com mais frequência em menores de 50 anos — um em cada três pacientes mais jovens. A tendência preocupa a comunidade médica, que admite não saber ainda o motivo deste aumento.
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A epidemiologista e bióloga molecular Andreana Holowatyj, da Universidade Vanderbilt, tem liderado várias análises que mostram um padrão claro: a incidência aumenta de geração para geração.
Em 2020, Holowatyj documentou um aumento de 232% nos casos de cancro maligno do apêndice entre 2000 e 2016. O estudo mais recente mostrou que entre americanos nascidos entre 1976 e 1984, os casos triplicaram; e nos nascidos entre 1981 e 1989, os casos quadruplicaram.
Apesar da gravidade dos números, o cancro do apêndice continua a ser uma doença rara, com cerca de 3.000 casos por ano nos EUA — muito menos do que, por exemplo, o cancro colorretal, que regista 150.000 diagnósticos anuais.
O apêndice foi durante décadas visto como um órgão inútil, mas investigações recentes sugerem que pode desempenhar funções importantes no sistema imunitário. A inflamação (apendicite) é a complicação mais comum, mas, em situações muito raras, o cancro pode ser detetado durante uma cirurgia.
Os sintomas são frequentemente confundidos com problemas digestivos ou ginecológicos, o que atrasa o diagnóstico. Dor abdominal, inchaço ou dor pélvica podem levar a suspeitas erradas de hérnias, miomas, cistos ou endometriose. Além disso, o tratamento da apendicite sem cirurgia está a tornar-se mais comum, o que pode impedir a descoberta precoce de tumores.
Holowatyj sublinha que “embora raro, qualquer pessoa com estes sintomas deve consultar um profissional de saúde”, já que a identificação precoce é crucial num cancro que muitas vezes progride de forma discreta.
As causas continuam por esclarecer, mas os investigadores apontam vários fatores que podem estar envolvidos: mudanças na alimentação e menor atividade física; exposições ambientais, incluindo microplásticos e “químicos eternos” presentes na água; qualidade do sono e ritmos de vida alterados; alimentos ultraprocessados e consumo de álcool; e predisposição genética.
Especialistas como Steven Ahrendt, oncologista cirúrgico da Universidade do Colorado, notam que o aumento de casos acompanha o que já se observa noutros cancros gastrointestinais em jovens adultos, incluindo cólon, ducto biliar e pâncreas.
Por ser tão raro, o cancro do apêndice recebe pouca atenção científica e não existem protocolos de rastreio. Os tumores também têm características moleculares distintas dos cancros colorretais, respondendo mal à quimioterapia tradicional e surgindo em idades mais jovens.
Holowatyj afirma que a sua equipa está empenhada em aprofundar o tema: “Estamos dedicados a compreender quem está em maior risco e porquê. É uma doença rara, mas que está a aumentar e exige respostas.”
Os estudos mais recentes foram publicados nas revistas Gastroenterology e Annals of Internal Medicine.
A comunidade científica continuará a investigar esta tendência que, para já, permanece sem explicação clara — mas que tem implicações sérias para a saúde das gerações mais jovens.
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