Saúde
Alerta: Talões podem ser mais perigosos do que imagina (e não falamos das contas…)

Imagem: Pexels
Talões de compra, garrafas plásticas, latas de alimentos e brinquedos infantis: produtos comuns na rotina de quase toda a população contêm bisfenol A (BPA), um composto químico amplamente utilizado na fabricação de plásticos e resinas.
Além disso, o BPA está presente no revestimento interno de embalagens e em utensílios domésticos, o que amplia sua exposição diária.
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O que acende o sinal de alerta entre pesquisadores e autoridades de saúde é a classificação do BPA como um desregulador endócrino, ou seja, uma substância capaz de interferir na produção e na ação dos hormônios do organismo, principalmente dos hormônios sexuais.
“A principal preocupação é o plástico, cujo uso é massivo em todo o mundo — falamos de toneladas produzidas anualmente”, explica Elaine Costa, coordenadora da comissão de endocrinologia ambiental da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Segundo a mesma, o BPA funciona como o “tijolo” na estrutura do plástico, e o aquecimento desses recipientes pode liberar o composto para os alimentos, aumentando a contaminação. O problema também se estende para o meio ambiente, já que plásticos descartados contaminam rios e a água.
Outro fator preocupante é a presença do BPA nos talões de compra, impressos em papel térmico, que podem liberar o composto que é absorvido pela pele, especialmente em trabalhadores do comércio expostos diariamente ao material. Apesar da absorção ser considerada baixa, estudos apontam que a exposição contínua, mesmo em pequenas doses, pode trazer riscos a longo prazo, incluindo impactos na saúde metabólica desde a vida intrauterina, afetando gerações futuras.
O endocrinologista Carlos Minanni, do Hospital Israelita Einstein, destaca a importância de medidas preventivas simples, como evitar o uso de plásticos para aquecer alimentos, preferindo materiais como vidro ou inox, para diminuir a exposição ao BPA.
Embora não haja consenso científico sobre o nível exato de exposição que representa risco concreto à saúde humana — por limitações éticas em realizar estudos controlados —, estudos epidemiológicos associam maior exposição ao BPA a doenças como obesidade, diabetes e alterações na fertilidade. Em animais, os efeitos nocivos do BPA já são comprovados.
A estrutura química do BPA se assemelha à do estradiol, principal hormônio sexual feminino, permitindo que o composto interfira no funcionamento hormonal natural, “como uma chave falsa que entra na fechadura errada”, explica Elaine Costa. Além de afetar hormônios sexuais, o BPA pode impactar a tireoide, o metabolismo e o sistema reprodutor, pode ler-se no ZAP.
A ginecologista Márcia Mendonça, da UFMG, aponta que o BPA pode ter ação estrogênica ou antiestrogênica, interferindo no equilíbrio hormonal e estando associado a problemas como redução da qualidade do esperma, anomalias genitais masculinas, alterações do ciclo menstrual, síndrome dos ovários policísticos, endometriose e até certos tipos de câncer.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece cerca de 800 compostos químicos que podem interferir no sistema hormonal, incluindo o BPA, mas ressalta que apenas uma fração foi estudada a fundo, o que gera incertezas quanto à dimensão dos riscos.
No Brasil, a Anvisa admite que os efeitos tóxicos do BPA foram identificados principalmente em doses elevadas, mas alguns estudos indicam que doses baixas também podem causar alterações no desenvolvimento neurológico e reprodutivo. Por isso, especialistas defendem a adoção do princípio da precaução e o avanço de pesquisas para melhor compreender os riscos.
“A ausência de evidência não é evidência de ausência. Se sabemos que o BPA pode causar efeitos, devemos agir para prevenir”, conclui Elaine Costa.
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