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Água engarrafada não é tão pura quanto pensa

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 dia atrás em 11-12-2025

Imagem: depositphotos.com

A crescente desconfiança na água da torneira transformou a água engarrafada num produto básico global — mesmo em países onde o abastecimento público está entre os mais rigorosamente testados do mundo. Impulsionado por campanhas de marketing que a apresentam como mais pura, mais saudável e mais conveniente, o consumo não para de aumentar. Mas a ciência contradiz essa imagem cristalina.

Um estudo de 2025 revelou níveis elevados de contaminação bacteriana tanto em garrafas plásticas descartáveis como em galões reutilizáveis vendidos comercialmente. Os resultados reforçam o que vários trabalhos já indicam: em muitos países desenvolvidos, a água da torneira é mais controlada, mais transparente e frequentemente mais segura do que as alternativas engarrafadas.

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Enquanto o abastecimento público é monitorizado diariamente para detetar bactérias, metais pesados e pesticidas — e tem de cumprir normas legais rigorosas, como a Diretiva Europeia da Água Potável — a água engarrafada é regulada como alimento embalado, sujeita a testes menos frequentes e sem obrigação de divulgação detalhada ao público.

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A perceção de pureza desmorona ainda mais perante a investigação recente. Um estudo de 2024 detetou dezenas de milhares de partículas de microplástico por litro em algumas marcas. Outros trabalhos identificaram contaminantes como ftalatos, usados para tornar plásticos flexíveis; antimónio, catalisador comum na produção de garrafas de PET; e bisfenóis alternativos (BPS, BPF), parentes do BPA, capazes de migrar para a água sobretudo quando expostos ao calor.

Alguns destes compostos são desreguladores endócrinos, potencialmente capazes de interferir no sistema hormonal humano. Os níveis encontrados costumam ser baixos, mas investigadores alertam para a incerteza sobre efeitos cumulativos a longo prazo, já que o consumo global de água engarrafada continua a crescer.

Além disso, a água engarrafada não é estéril: uma vez aberta, torna-se um ambiente propício para proliferação microbiana, especialmente se deixada em locais quentes. Reutilizar garrafas descartáveis também introduz bactérias da saliva e do ambiente.

A água da torneira, na maioria dos países europeus e norte-americanos, não só cumpre critérios mais rigorosos como contém minerais benéficos. Em alguns sistemas, como no Reino Unido, é ainda adicionada fluoretação para prevenir cáries — algo refletido em estudos que mostram taxas mais altas de cárie entre crianças que bebem água engarrafada com maior frequência, pode ler-se no The Conservation.

O planeta também paga um preço elevado. Atualmente, compram-se cerca de um milhão de garrafas de plástico por minuto. Produzir um único litro de água engarrafada pode exigir até 2.000 vezes mais energia do que fornecer um litro de água da torneira, segundo estimativas da empresa dinamarquesa Aquaporin. A pegada de carbono ronda os 80 gramas de CO₂ por litro, considerando produção, transporte e refrigeração.

Com a confiança na água da torneira fragilizada em várias regiões do mundo — e com as mudanças climáticas, a urbanização e a poluição a pressionarem os sistemas hídricos — investigadores procuram soluções descentralizadas.

Uma dessas propostas é o Solar2Water, um dispositivo portátil alimentado a energia solar capaz de produzir água potável diretamente do ar. Sistemas deste tipo reduzem a dependência do plástico descartável e oferecem uma resposta local quando as infraestruturas municipais falham ou são insuficientes.

A água engarrafada continua essencial em emergências, em crises humanitárias ou quando o abastecimento público é efetivamente impróprio para consumo. Mas nos países desenvolvidos, especialistas são claros: não é mais segura, nem mais limpa, do que a água da torneira.

À medida que o acesso a água segura se torna um desafio global cada vez maior, compreender as diferenças reais entre as duas opções pode ajudar consumidores, autoridades e comunidades a tomar decisões mais informadas — e a proteger tanto a saúde humana como o ambiente.

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