A Escola Superior Agrária de Coimbra e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) organizam na quinta-feira uma jornada técnica que pretende ser um primeiro passo para se criar um polo de treino sobre restauro florestal.
O evento, organizado pela Agrária de Coimbra, núcleo de estudantes florestais e ICNF, “terá uma forte componente de aplicação prática e irá marcar o início da colaboração” entre as duas entidades, tendo em vista a criação de um polo de conhecimento e treino sobre restauro florestal em Portugal, referiu a organização.
“Isto insere-se na grande tragédia que foram os incêndios deste ano, em que houve algumas áreas que notavelmente escaparam ao fogo, como a Mata da Margaraça [em Arganil] e a aldeia da Cerdeira [Lousã], e o encontro tem como ideia criar uma escola e uma cultura à volta do restauro florestal”, disse à agência Lusa o docente da Agrária Joaquim Sande Silva.
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Esse polo de treino, que se prevê que fique sediado na Agrária de Coimbra, pretende “dar indicações aos técnicos e equipas de sapadores florestais” sobre o aproveitamento da regeneração de espécies autóctones, para garantir zonas florestais “menos suscetíveis ao fogo do que a generalidade da paisagem da região Centro e Norte”, afirmou.
Para isso, será usada a própria Mata da Agrária, com cerca de 22 hectares, como espaço de treino.
Segundo Joaquim Sande Silva, “falta imenso conhecimento” às equipas de sapadores, com muito do trabalho de limpeza a ser mecânico e a não distinguir “um carvalho de uma giesta, comprometendo o futuro da vegetação”.
“É preciso perceber que nem tudo terá de ser limpo e é preciso distinguir as espécies e eleger a vegetação que deve ser mantida e aquela que deve ser removida”, ao contrário do que acontece atualmente, em que a maioria das equipas “trata tudo como mato”, notou.
De acordo com o docente da Escola Agrária de Coimbra, a perspetiva é assegurar que o protocolo que estabelece um polo de treino para equipas de sapadores possa estar assinado até ao final do ano.
Joaquim Sande Silva afirmou que, no caso das áreas que arderam este ano, será cedo para fazer intervenções de restauro, mas é agora que se deve começar a planear essas intervenções.
“Daqui a dois ou três anos teremos mato e, em vez de insistirmos na receita de costume, que é enterrar dinheiro na limpeza de mato, que é hoje uma indústria, é preciso assegurar o restauro” das espécies que importa proteger.
O evento irá contar com várias palestras de manhã, estando ainda prevista a presença do secretário de Estado das Florestas, Rui Ladeira.
Joaquim Sande Silva salientou que o secretário de Estado “está muito sensibilizado para estas questões” e disse acreditar que será possível “inverter o paradigma da limpeza e das faixas de combustível e fazer algo muito mais sustentável”.
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