O presidente da agência integrada dos fogos rurais disse hoje que “há debilidades crónicas” na gestão do dispositivo de combate, avançando que este ano o sistema não conseguiu proteger as aldeias e gerir o fogo dentro das florestas.
Na comissão parlamentar de Agricultura e Pescas, onde foi ouvido hoje à tarde, o presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), Tiago Oliveira, sublinhou que “era previsível” os incêndios consumirem “áreas ardidas muito grandes”, como aconteceu este ano.
“O que não era previsível era a pressão que houve nos territórios agrícolas, ou seja, o fogo escapou para muitos territórios em que o mosaico não foi aproveitado enquanto oportunidade de supressão”, disse, dando como exemplo os incêndios nos concelhos da Mêda, Penedono, Sernancelhe e na Cova da Beira onde o fogo passou por 27 aldeias e “nem todos tinham bombeiros”.
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Segundo Tiago Oliveira, o sistema de combate “não teve a velocidade de antecipação e de enquadramento para dar a resposta e proteger aquelas aldeias”.
“Algumas aldeias até sobreviveram, não houve feridos e até fatalidades porque estavam preparadas pelo programa Aldeia Segura ou porque havia gente lá de férias e arregaçou as mangas e fez o seu trabalho”, frisou.
O responsável da agência que coordena os fogos rurais avançou que o sistema também não teve “capacidade de antecipação para gerir o fogo dentro da florestas e aproveitar as oportunidades de ancoragem que os incêndios foram permitindo”.
“Há crónicas debilidades na gestão do dispositivo, tanto do combate como da prevenção”, afirmou, ressalvando que ainda não há uma análise ao que se passou este ano.
A pedido do Chega e do PCP, Tiago Oliveira foi ouvido no parlamento para prestar esclarecimentos sobre o Relatório de Atividades de 2024 do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais e sobre o que foi feito e o que está por fazer no âmbito da prevenção dos incêndios e do ordenamento floresta e frisou que já em 2024 a AGIF tinha sinalizado que havia “preocupações relativamente às crónicas debilidades associadas ao sistema de comando e controlo, antecipação e do planeamento da supervisão”.
O responsável precisou que o problema nos grandes fogos deste ano está “muito certamente associado ao que foi identificado no incêndio de 2022 na Serra da Estrela”.
De acordo com o presidente da AGIF, na altura foi proposto um conjunto de recomendações, nomeadamente “a criação de um estado-maior”.
“Quando os incêndios se antecipam e vão ser complexos devemos ser capazes de buscar a competência das várias entidades para poder gerir os meios de uma forma mais proficiente e com mais conhecimento e isso pressupõe a criação de um estado-maior”, disse, frisando que é “uma resposta que tem que ser colocada e dada pela Proteção Civil”.
Tiago Oliveira disse igualmente aos deputados que “não há constrangimentos técnicos de grande monta”, destacando que “houve grandes sucessos no aumento da vigilância, deteção e dissuasão, redução no número de incêndios e mais meios de combate”.
“As grandes questões são a qualidade da decisão, nomeadamente da movimentação regional, sub-regional destes meios para chegar ao incêndio”, disse.
O presidente da AGIF disse ainda que “o país só consegue vencer esta armadilha do combate e do paradoxo do fogo se investir fortemente na carga de vegetação”, defendendo como solução “um plano de fogo controlado, com um mecanismo de apoio à queima dos pastores e acima de tudo com muita pastorícia, puxando pela fileira da carne, queijo e leite”.
“Não estamos a ver outra solução porque não vai haver regresso ao campo, as pessoas não vão voltar a pegar nas enxadas. Tem que haver uma forma de comer esta vegetação”, sustentou.
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