Assinaturas NDC

Apoie a nossa missão. Assine o Notícias de Coimbra

Mais tarde

Saúde

Administradora diz que troika prejudicou autonomia hospitalar

Notícias de Coimbra | 10 anos atrás em 04-05-2014

A ‘troika’ teve “um impacto muito negativo” na autonomia hospitalar, mas também teve um papel positivo, designadamente em relação à transparência da gestão, sustenta a presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Marta Temido.

PUBLICIDADE

Os três anos de presença da ‘troika’ em Portugal refletiram-se “no ambiente hospitalar como no país em geral”, isto é, foram “extraordinariamente difíceis” e sob o ponto de vista dos hospitais, da gestão hospitalar, provocaram “uma enorme perda da autonomia das administrações”, afirmou a presidente da APAH, em entrevista à agência Lusa.

Os hospitais portugueses vinham, “ao longo dos últimos anos, a fazer um percurso no sentido de uma progressiva empresarialização, de uma progressiva autonomia em termos de utilização de regras”, mas, com a ‘troika’, “todo o caminho que se vinha fazendo desde 2002”, registou “um tremendo recuo nessa matéria”, salienta.

PUBLICIDADE

publicidade

“Em termos de gestão hospitalar, no plano técnico, estes foram os maiores impactos”, mas sob o ponto de vista assistencial, do “impacto na saúde em si”, ainda não passou o tempo suficiente para se “compreender qual o efetivo impacto”, refere.

Mas a situação dos hospitais, adianta: “ficou pior – não me parece que possamos, em termos de avaliação final, concluir de modo diferente”.

PUBLICIDADE

“A ‘troika’ pôs o dedo na ferida” em relação à acumulação da dívida dos hospitais, que “é um problema crónico” e que “é necessário inverter”, como refere o memorando de assistência económica e financeira, que, por outro lado, aponta a necessidade de instituir mecanismos de transparência.

De acordo com Marta Temido fizeram-se as duas coisas – o Ministério da Saúde negociou orçamentos corretivos, que permitiram pagar dívidas em atraso e foi cumprida a lei dos compromissos –, mas “o problema é mais estrutural do que se poderia pensar” e a acumulação da dívida manteve-se apesar dos esforços.

A acumulação da dívida persiste “por uma razão básica, que é a suborçamentação da saúde e dos hospitais”, adverte Marta Temido.

Esta cultura “está instalada e quem assume o ónus desta dívida por pagar é a indústria e portanto os hospitais são subfinanciados” – todos os atores reconhecem isso e, “provavelmente lamentam” que assim seja.

A situação “não é saudável. Poder-se-ia dizer que não é sustentável, mas, sobretudo não é saudável e representa riscos para os hospitais públicos no médio/longo prazo” e mesmo a curto prazo, alerta a presidente da APAH.

Nestes três anos, “todos os atores” do universo hospitalar compreenderam que “têm de ser mais racionais”, mas para tirar “resultados consistentes, duradouros” dessa aprendizagem é preciso tempo.

Marta Temido acredita, no entanto, que os trabalhadores do SNS têm uma profunda consciência em relação ao serviço que estão a prestar e à sua importância para as populações e “portanto terão cada vez mais essa preocupação, esse esforço”.

O ministério considera que o setor ficou melhor, a ‘troika’ diz o contrário.

“Apesar de termos conseguido sair de situações muito complicadas [houve ameaças de cortes de fornecimento de medicamentos, por exemplo] (…) a doença está instalada, está declarada e sabemos o que podemos fazer para a combater”, mas “isso exige um consenso social em relação à forma de trabalhar dos hospitais”, sustenta a administradora hospitalar.

“Não podemos confundir serviços de proximidade, acesso aos cuidados de saúde, com ter tudo em todo o lado”, apela, adiantando: “Há que ter esta discussão com todos os parceiros, de forma tranquila, mas sem ter medo de irritar as corporações”, defende.

“Temos de deixar de considerar o modelo de prestação de cuidados de saúde como algo que reside no hospital” ou que pode ser “desintegrado do território”, como é necessário também, por exemplo, “resolver o problema dos recursos humanos”, que continuam a emigrar (e já não apenas por falta de emprego) e em relação aos quais “não fizemos nada para os motivar, pelo contrário”.

Related Images:

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com