Opinião
Adão nunca saiu do paraíso
Hannah Arendt reforça o meu argumento, “toda a dor pode ser suportada se sobre ela se puder contar uma história”. O que fica escrito é veredicto para a memória. Algumas palavras envelhecem – “obediência” é uma delas. As mulheres nascem condenadas a uma prisão invisível, onde os seus corpos são apedrejados, censurados e são objetos nas mãos dos homens.
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A sociedade que enxerga o feminismo como inconveniente, sabe que o movimento incomoda a honradez dos pervertidos, aqueles que saem ilesos de qualquer história. Essa realidade precisa ser combatida e reinventada.
Na barriga da mãe, as mulheres nascem quase doutrinadas, fazem muitas coisas, a que não se sujeitariam, se não fosse o patriarcado. O homem é o santo, o guardião da dignidade; a mulher é a pecadora, a submissa, sufocada pelas convenções, sem direito a ter opinião, tendo que se curvar perante os absurdos.
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Com as revoluções e as sufragistas, o destino começou a mudar. Mas isso não impede que as mulheres sejam mortas, abusadas e violadas diariamente. Conduzidas à escravidão da sua existência durante séculos, são muitas vezes responsabilizadas pela sua condição, como se elas tivessem feito essa escolha.
O movimento feminista nasceu da necessidade de mudar o status quo da sociedade machista, que não vê excessos nas suas ações. Se qualquer pessoa, independente do género, lutasse a favor da mulher, estaria, também, a lutar pelo homem. Não se trata de uma disputa de gêneros, mas, por uma causa que dignifica a humanidade.
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Ruth Bader Ginsburg, juíza norte-americana, dizia que “gênero é biológico, assim como a raça é uma característica inalterada, não há nada que faça as mulheres serem melhores que os homens e vice-versa”. A evolução da sociedade só é plena quando todos nos sentimos iguais nos direitos e deveres.
A mulher é um verbo na busca incessante pela igualdade, onde ela possa ser o que quiser. A sentença é o começo de outra realidade, onde não há vencedores. Adão nunca saiu do paraíso, e foi no inferno que as mulheres sobreviveram. Agora é preciso resgatar Adão e libertá-lo das algemas machistas.
ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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