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Academia de Música de Coimbra diz que o musical é “uma nova forma de apresentar Amália”

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 ano atrás em 27-01-2023

A tecnologia atual vai permitir, num novo musical agendado para domingo, que a voz de Amália Rodrigues ‘regresse’ ao palco do Coliseu dos Recreios, sala onde atuou em 1994, naquele que foi o último recital da sua carreira.

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De acordo com os produtores, o espetáculo “Amália, Dona de Si” inclui diversos temas em que o principal intérprete e os músicos que o acompanham interagem com a voz de Amália Rodrigues, algo só possível com tecnologia que, há uma década, não existia.

“A construção de cada um dos temas tem aqui algo que só a tecnologia nos podia dar. Temos a voz da Amália, que é retirada dos originais, que nós colocamos através de algoritmos em ‘software’ e nos permite tocar ao vivo com a voz. Com os andamentos originais, mas com os instrumentos de hoje”, disse à agência Lusa o pianista Pedro Ferreira.

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“E isto também nos seduziu. Foi [pegar em algo] tradicional, algo que está na História e trazer algo de novo. Uma nova forma de apresentar a Amália”, acrescentou o também diretor geral da Academia de Música de Coimbra (AMC)

Também dirigente e professor na AMC, Ricardo Costa, o ‘mago’ da componente tecnológica de “Amália, Dona de Si”, onde desempenha funções de técnico de som, explicou o processo: “A tecnologia foi-se desenvolvendo e, agora, conseguimos separar dentro de uma música determinadas frequências respetivas aos instrumentos. Neste caso é a voz da Amália”.

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“A Amália não gravava em pistas [com a voz e instrumentos separados]. Agora, com o crescimento da tecnologia, é possível fazer esse trabalho. Agora, este processo é relativamente simples e possível de concretizar, há dez anos era impossível”, enfatizou.

E como é cantar com Amália, ao mesmo tempo do que ela, sem Amália estar, fisicamente, em palco? O cantor Diogo Carvalho resumiu a “emoção” de o fazer, mesmo se os ensaios são diferentes de uma apresentação ao vivo do musical que se estreou em 2021, no Centro de Artes e Espetáculos (CAE) da Figueira da Foz e passou por São Paulo, no Brasil, em novembro de 2022.

“Normalmente nos ensaios nada nos toca, mas em palco, estava a cantar o primeiro tema, o “Medo”, e quando entrou a voz dela, instalou-se um ambiente completamente diferente. Mas não é só a mim, quase de certeza absoluta que isso também aconteceu com o público”, resumiu Diogo Carvalho,

“Foi aquela coisa do ‘uau, estou a fazer isto’. Estou a concretizar um sonho”, destacou.

Musicalmente, “Amália, Dona de Si” é um olhar para a carreira de uma artista “que desconstruiu aquilo que era um bastião chamado fado, aquilo que ela própria ajudou a elevar”, continuou Pedro Ferreira.

“É um grande desafio para nós e uma grande missão de responsabilidade passar às gerações atuais, esta capacidade da Amália se afirmar como alicerce e estrutura de algo que é um género musical tão importante para um país. E de como ela conseguiu brincar com ele, trazer-lhe leveza, como foram as canções mais populares, mais tradicionais, mas também pisar os grandes palcos de todo o mundo com uma magnitude que lhe é reconhecida”, argumentou.

O que o novo musical pretendeu fazer “foi, também, de alguma forma, trazer essa desconstrução” para o palco, substituindo a viola por um piano, adicionando um contrabaixo, mas mantendo a guitarra portuguesa.

“Nunca poderíamos tirar a guitarra portuguesa, nem ela o fez, embora tenha havido uma fase em que apareceu um saxofone e outros instrumentos que tiraram o lugar da guitarra portuguesa nos comentários melódicos, o que é interessante. E depois daí, também, as excelentes polémicas que a Amália ia provocando”, notou Pedro Ferreira.

Nessas polémicas, continuou, a própria Amália “tirava as suas conclusões e qual o caminho a seguir”.

“E a guitarra portuguesa abraça-a de uma forma incrível”, sublinhou Pedro Ferreira.

Já o guitarrista Ricardo Silva reforçou essa importância da guitarra portuguesa, quer no musical de que faz parte, quer na carreira da cantora e fadista portuguesa.

“A Amália, que viajou pelo mundo inteiro e por diversos estilos, nunca largou a sua raiz, do fado e da guitarra portuguesa. Muitas vezes, até em filmes e espetáculos antigos, estão orquestras enormes em palco a fazer o suporte musical e, à frente, com ela, está sempre uma guitarra portuguesa. Ou duas, neste caso no quarteto de cordas Raul Nery, que a acompanhou durante muitos anos”, lembrou.

“Ela nunca deixou essa vertente fadista e isso, ao mesmo tempo, ajudou a marcar ainda mais a nossa identidade. Ela foi a Cesária Évora da morna, a Edith Piaf em França e nunca deixou essa parte da guitarra. Fazer um espetáculo sobre a Amália teria de ter a guitarra portuguesa, nunca poderia ser de outra maneira”, acrescentou.

Para além da reinterpretação de temas icónicos de Amália Rodrigues, “Amália, Dona de Si” apresenta um tema original, cantado por Diogo Carvalho, que encerra o espetáculo.

“Quando olhamos para a sua história de vida, que está aqui tão bem escrita, musicalmente também tínhamos a missão de trazer algo de novo. Lançamos um original, que se chama ‘Amália, Pelos Caminhos do Teu Nome’, que quer trazer esses sons de hoje, essa forma também de compor para as gerações mais atuais”, revelou Pedro Ferreira.

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