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A verdade inquietante sobre os olhos dos gatos

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 2 horas atrás em 24-12-2025

Imagem: depositphotos.com

Os gatos têm alguns dos olhos mais singulares do reino animal. Ao contrário dos humanos, cujas pupilas são circulares, os felinos apresentam pupilas verticais em forma de fenda, capazes de se abrir e fechar com grande rapidez, à semelhança do diafragma de uma máquina fotográfica. Esta característica não é apenas estética: está diretamente ligada à forma como estes animais usam a visão.

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De acordo com um estudo conduzido por investigadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, o formato das pupilas dos animais está intimamente relacionado com o seu modo de vida. A equipa analisou 214 espécies de animais terrestres e concluiu que a forma como cada espécie distribui a sua actividade ao longo do dia influencia o formato das suas pupilas. O estudo foi publicado na revista Science Advances.

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O formato e o tamanho da pupila determinam a quantidade de luz que entra no olho e que é depois transformada pelo cérebro numa imagem do mundo. Em ambientes com pouca luz, as pupilas dilatam-se para permitir a entrada de mais luz; em ambientes muito iluminados, contraem-se para evitar a sobrecarga visual.

Embora este mecanismo também exista nos humanos, os gatos conseguem fazê-lo de forma muito mais eficaz. As suas pupilas em fenda permitem uma variação extrema entre os estados de dilatação e contração, podendo alterar a sua área entre 135 e 300 vezes. Em comparação, as pupilas humanas apenas conseguem variar cerca de 15 vezes.

Esta capacidade dá aos gatos uma vantagem significativa na caça, sobretudo porque são animais maioritariamente noturnos. À noite, conseguem dilatar as pupilas para captar até os mais pequenos vestígios de luz. Durante o dia, podem contraí-las até uma fenda mínima, protegendo os olhos do excesso de luminosidade.

O estudo também analisou outras formas curiosas de pupilas no reino animal. Animais herbívoros como ovelhas, cavalos e veados possuem pupilas horizontais em forma de fenda. Segundo os investigadores, esta configuração permite-lhes manter um campo de visão panorâmico muito amplo, mesmo quando têm a cabeça baixa enquanto pastam.

“O principal requisito visual destes animais é detectar predadores que se aproximam ao nível do solo, com o mínimo de pontos cegos”, explicou Martin Banks, autor do estudo e professor de optometria em Berkeley. “Além disso, precisam de uma boa visão periférica para fugir rapidamente e ultrapassar obstáculos.”

Os investigadores observaram ainda que muitos herbívoros rodam os globos oculares quando baixam a cabeça, de modo a manter as pupilas alinhadas paralelamente ao chão, maximizando a vigilância do ambiente.

Já as pupilas verticais, como as dos gatos, cobras e crocodilos, ajudam os predadores a avaliar melhor a distância até às presas, melhorando a percepção de profundidade e a precisão do ataque. Curiosamente, os grandes felinos, como leões e tigres, não partilham esta característica e apresentam pupilas circulares. A equipa sugere que o seu maior tamanho corporal e a maior distância em relação ao solo reduzem a necessidade de ajustes tão finos na focalização.

Apesar das conclusões, nem todos os cientistas estão plenamente convencidos. Para Ronald H. H. Kröger, biólogo da Universidade de Lund, existem demasiadas excepções para que o formato da pupila possa ser explicado apenas pela distinção entre predador e presa ou pelo tamanho do animal.

Ainda assim, o estudo contribui para uma melhor compreensão da diversidade e complexidade da visão animal. E da próxima vez que o seu gato o olhar de lado, com as pupilas estreitas em forma de fenda, poderá saber que esse olhar é fruto de milhões de anos de evolução — provavelmente direcionado a um rato… e não a si.

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