O chocolate dos calendários do Advento tem fama de “saber diferente” — e não é apenas impressão dos consumidores. Especialistas explicam que a diferença de sabor e textura está ligada a opções de produção pensadas para reduzir custos, facilitar a moldagem e permitir preços acessíveis.
De acordo com o IFL Science, muitos destes chocolates recorrem a gorduras vegetais, como óleo de palma ou de coco, em vez de utilizarem exclusivamente manteiga de cacau, a gordura natural do chocolate tradicional. Em alguns casos, trata-se do chamado chocolate composto, uma alternativa mais barata em que a manteiga de cacau é parcialmente ou totalmente substituída por óleos vegetais. Noutras situações, a manteiga de cacau continua presente, mas é “cortada” com essas gorduras para baixar os custos de produção.
O resultado é um chocolate com sabor ligeiramente diferente e, sobretudo, uma textura menos suave e menos amanteigada, muitas vezes descrita como mais cerosa. Esta diferença é especialmente notada por consumidores habituados a chocolates de maior qualidade, ajudando a explicar porque o chocolate dos calendários é frequentemente considerado inferior ao de uma tablete convencional.
Além do fator económico, existe também uma razão prática. Chocolates com gorduras vegetais são geralmente mais fáceis de moldar, solidificam de forma mais previsível e adaptam-se melhor a produções em massa. Estas características são particularmente úteis nos calendários do Advento, que apresentam pequenas cavidades e formatos festivos variados, exigindo rapidez e eficiência na produção.
Ainda assim, nem todos os calendários seguem esta lógica. Versões premium ou de marcas reconhecidas tendem a manter padrões de qualidade mais elevados, utilizando receitas semelhantes às dos seus chocolates habituais. Já os modelos mais económicos recorrem com maior frequência a formulações mais baratas.
As diferenças também variam consoante o país, devido às regras de rotulagem. Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) exige que o chocolate utilize apenas manteiga de cacau. Produtos com óleos vegetais não podem ser rotulados simplesmente como “chocolate” e surgem com designações como “chocolatey” ou “chocolate-flavored coating”.
Na União Europeia, incluindo Portugal, a legislação permite que um produto seja vendido como chocolate desde que contenha menos de 5% de gordura vegetal, o que possibilita o uso de óleos mais baratos mantendo a designação. Também os requisitos de cacau diferem: na UE, o chocolate deve conter pelo menos 25% de sólidos de cacau, enquanto nos EUA basta 10% de “chocolate liquor”.
Estas diferenças ajudam a explicar por que razão o chocolate dos calendários do Advento nem sempre corresponde às expectativas — mesmo quando parece igual à primeira dentada.
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