Pode parecer um déjà vu, mas não é: esta terça-feira, 5 de agosto, é oficialmente um dos dias mais curtos de sempre.
É a terceira vez desde julho que se regista uma redução excecional na duração de um dia, mas hoje bate-se um novo recorde. Segundo o Olhar Digital, pelo quinto ano consecutivo, a rotação da Terra está a acelerar ligeiramente entre julho e agosto, encurtando de forma quase impercetível o tempo que cada dia leva a completar-se.
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Trata-se de uma redução na duração total do dia, ou seja, no tempo que a Terra demora a dar uma volta completa sobre si mesma. Mas nada que altere o ritmo do quotidiano — estamos a falar de uma diferença de apenas 1,5 milissegundos. Para se ter uma ideia, isso representa cerca de 0,1% da duração de um piscar de olhos.
De acordo com a plataforma Time and Date, o primeiro dia excecionalmente curto de 2025 foi 9 de julho, quando o planeta girou 1,30 milissegundos mais rápido que o habitual. A 22 de julho, esse valor aumentou para 1,38 milissegundos. Hoje, espera-se que o recorde seja superado.
Estes dados são monitorizados pelo Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra (IERS) e pelo Observatório Naval dos Estados Unidos.
Atualmente, a Terra leva pouco mais de 365 dias para completar uma volta ao Sol (movimento de translação), enquanto gira sobre o seu eixo (rotação), definindo a duração dos dias e noites. No entanto, ao longo da história, esses valores variaram. Registos indicam que já houve anos com entre 372 e 490 dias, devido à variação na duração dos dias.
Fatores como o nível do mar, movimentos internos do planeta e mesmo terramotos podem influenciar a rotação terrestre. Contudo, o fator mais determinante é a interação gravitacional com a Lua. À medida que o nosso satélite natural se afasta da Terra, o planeta tende a girar mais lentamente, numa tentativa de manter o equilíbrio angular. Esta desaceleração é de cerca de 2 milissegundos por século.
Para acompanhar estas variações minúsculas, os cientistas recorrem a relógios atómicos de alta precisão. Quando necessário, acrescentam-se os chamados “segundos intercalares” ao tempo civil para o manter alinhado com o tempo astronómico. Desde 1972, foram adicionados 27 segundos desse tipo. No entanto, desde 2016 que não houve necessidade de acrescentar mais nenhum — e o IERS já confirmou que em 2025 também não será necessário.
Desde 2020, a Terra tem vindo a acelerar a sua rotação. Nesse ano, registaram-se 28 dos dias mais curtos desde 1960. Em 2024, o recorde foi novamente superado, com um dia 1,66 milissegundos mais curto que os habituais 86.400 segundos.
A origem desta aceleração ainda é um mistério. Segundo o físico Judah Levine, do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA, esta tendência surpreendeu a comunidade científica, que esperava precisamente o oposto: uma desaceleração contínua. O investigador Leonid Zotov, da Universidade Estatal de Moscovo, concorda. Para ele, nem os modelos atmosféricos nem os oceanográficos explicam a aceleração actual. “A maioria dos cientistas acredita que seja algo dentro da Terra”, afirmou à Time and Date.
Terramotos de grande magnitude também têm impacto. O sismo de 2011 no Japão (magnitude 9,0) deslocou o eixo da Terra em cerca de 17 cm, encurtando os dias em 1,8 microssegundo. O terramoto de 2004 na Indonésia teve ainda maior impacto: uma redução de 2,68 microssegundos na duração diária.
“Tal como uma patinadora que aproxima os braços do corpo para girar mais depressa, um sismo pode redistribuir a massa terrestre e alterar a rotação do planeta”, explicou Richard Gross, do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA, à Popular Mechanics.
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