A Música Dá Trabalho é uma iniciativa incrível da Omnichord, editora (e muitas outras coisas) de Leiria que é um verdadeiro case study do poder de acreditar. O projeto apresenta-se com o objetivo de mostrar aos alunos de diversas escolas o conjunto de profissões e processos que tornam possível a realização de um espetáculo musical. Ler que pretende promover a literacia musical e valorizar o trabalho de todos os profissionais envolvidos na indústria da música, indo além dos artistas que sobem ao palco, já devia ser o suficiente para acharmos que é uma bela ideia, mas assistir à sua concretização prova que não há palavras que lhe façam justiça.
Ver o entusiasmo dos mais novos e a forma livre como aprendem – experimentando, perguntando e sentindo-se parte do processo – faz-nos pensar sobre esperança. É fácil para as gerações que já cá andam há mais tempo caírem no cinismo da crítica aos jovens, na tentação de acharem que precisam de lhes explicar tudo sem lhes perguntar nada, de lhes mostrar o que é importante só porque se diz que é. Mas se deixarmos que os miúdos e as miúdas nos surpreendam, temos todos a ganhar!
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O que A Música Dá Trabalho nos mostra, acima de tudo, é que coisas bonitas podem surgir se confiarmos uns nos outros. Porque os alunos confiam na equipa da Omnichord para os guiar tanto quanto essa equipa confia que eles farão coisas fantásticas – se não necessariamente no dia que passam juntos, ao longo da vida.
Esse pacto de confiança é talvez a essência mais poderosa do projeto: uma aposta em futuros que ainda não se conhecem, mas que já se começam a desenhar quando alguém acende uma luz sobre possibilidades até então invisíveis. Ao dar palco – literal e metaforicamente – a técnicos de som, produtores, roadies, iluminadores e tantos outros, A Música Dá Trabalho não só desmonta o mito do artista isolado, como também lança uma poderosa provocação sobre a ideia de sucesso, mostrando que há valor, criatividade e realização em cada função.
E, não menos importante em tempos de tão vincado individualismo, dá aos jovens um vislumbre concreto do que significa trabalhar em equipa, valorizar a diversidade, assumir responsabilidades e, acima de tudo, pertencer a algo maior do que eles próprios. E é esse, afinal, um dos grandes poderes da música!
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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