Em 2025, nesta mesmice entediante, esforço-me para parecer normal. Ouço na rádio “Ordinary World”, da banda inglesa Duran Duran, um sucesso dos anos 90, entre relatos de guerras, muitas delas travadas por homens que de longe parecem normais. Num mundo dito normal, com pessoas supostamente razoáveis liderando nações, seria improvável que houvesse massacres de crianças e inocentes.
Lembro-me aquando aprendi a dançar, aos nove anos. A dança entrou na minha vida como uma fonte de inspiração etérea. Com algum conhecimento, o ritmo tornou-se uma necessidade útil, e viver assim tinha um sabor excepcional, descobri um dos prazeres da vida.
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Algumas memórias são ativadas pela figura de minha mãe, responsável por muitas histórias que lhe ouvi. No passado, as pessoas ligavam-me, mas eu não estava em casa e minha mãe anotava os recados. A vida não passava despercebida e exercia mais influência do que qualquer outra razão existencial.
Houve um período em que me esforçava para que algo pudesse ser importante, também, para a vida do outro. Por exemplo, fazia questão de estar presente no café da manhã em família. Mas que importância tinha isso, se certas palavras nunca foram ditas?
Atualmente, vivemos na era de insignificância e encaramos com naturalidade o que, possivelmente, um dia nos poderá causar danos irreparáveis. Nesse cenário, vejo-me, ainda, dançando para esquecer a história do futuro. Simplesmente esquecer essa memória líquida, desconstruir a inocência e escutar o silêncio.
Afinal, para que servem as guerras? Para criar vazios intermitentes e olhares trémulos.
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