Investigadores norte-americanos descobriram que combinações específicas de micróbios presentes na boca estão associadas ao risco de desenvolver um dos cancros mais mortais: o cancro de pâncreas. Os resultados sugerem que manter uma boa higiene oral pode ter benefícios que vão para além da saúde dentária.
“Está mais claro do que nunca que escovar os dentes e usar fio dental pode não apenas prevenir doenças periodontais, mas também proteger contra o cancro”, afirma o epidemiologista Richard Hayes, da Universidade de Nova Iorque (NYU).
O estudo analisou registos de saúde e amostras de lavagem bucal de mais de 300.000 indivíduos com idades entre 50 e 70 anos, recorrendo a dados de dois estudos de longo prazo nos Estados Unidos. Entre os participantes, 445 desenvolveram cancro de pâncreas, cujos dados foram comparados com os de 445 participantes saudáveis.
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Os investigadores identificaram 27 micróbios associados a um risco mais que triplicado de cancro de pâncreas. Entre estes destacam-se três espécies de bactérias bucais – Porphyromonas gingivalis, Eubacterium nodatum e Parvimonas micra – e um fungo comum, Candida tropicalis. Hayes sublinha que isto não significa que estes micróbios causem o cancro diretamente, mas indica padrões que justificam investigação mais aprofundada.
Curiosamente, outras espécies de bactérias e fungos foram associadas a um risco reduzido de cancro , sugerindo que a composição da microbiota oral desempenha um papel crucial na saúde. Os micróbios poderão aceder ao pâncreas através do sistema digestivo, viajando na saliva, embora os mecanismos exatos ainda não estejam totalmente esclarecidos.
A deteção precoce do cancro de pâncreas é difícil, dado que os sintomas apenas surgem em estádios avançados. Com uma taxa de sobrevivência de apenas 13% aos cinco anos, identificar fatores de risco precoces, como a microbiota oral, pode ser essencial.
“Ao traçar o perfil das populações bacterianas e fúngicas na boca, os oncologistas podem identificar aqueles que mais necessitam de exames para cancro de pâncreas”, acrescenta Jiyoung Ahn, coautor do estudo. A equipa pretende agora investigar também a influência de vírus neste risco.
O estudo foi publicado na revista científica JAMA, reforçando a importância de uma boa higiene oral como potencial medida preventiva contra doenças graves.
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