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A antiga “Fátima” da Região Centro mantém viva uma devoção com mais de três séculos

Notícias de Coimbra | 2 horas atrás em 10-10-2025

 No topo da encosta sobranceira ao Mosteiro de Semide ergue-se o Santuário do Senhor da Serra, um dos mais antigos e emblemáticos locais de peregrinação do centro do país.

Com uma vista panorâmica que se estende da Serra da Lousã até à Serra da Estrela, este santuário é palco de uma romaria centenária que continua a reunir, todos os anos em agosto, inúmeros devotos vindos de várias regiões.

A história do Santuário do Senhor da Serra está profundamente ligada ao Mosteiro Beneditino de Santa Maria de Semide, do qual dependia. A sua origem remonta ao século XVII, quando Martim Avô e Maria Guilhermina, naturais de Ceira, colocaram uma imagem do Senhor da Serra num local próximo de Vendas da Serra, possivelmente em cumprimento de um voto.

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A imagem depressa ganhou fama de milagrosa, atraindo peregrinos de várias partes do país. Os criados do convento de Semide, ao conhecerem o fervor popular, levaram a imagem para junto das freiras beneditinas, que a colocaram inicialmente num nicho, no sítio do Cruzeiro. Porém, perante o crescente número de fiéis, decidiram mandar construir uma capela, concluída em 1653, no local onde hoje se encontra o santuário.

Durante séculos, o Senhor da Serra foi o maior centro de devoção da Região Centro, antecedendo mesmo a fama de Fátima. A grande romaria anual, que decorria de 15 a 23 de agosto, reunia multidões vindas de todo o país: gentes da Beira-Mar, da Estremadura, da Gafanha ou da Beira Interior, muitas delas percorrendo a pé longas distâncias para cumprir promessas ou agradecer milagres — o salvamento de um pescador, a cura de um familiar, a superação de uma tragédia.

Os peregrinos subiam em grupos ou ranchos, facilmente reconhecidos pelos trajes regionais e pelas cantorias. De Ceira, Miranda, Trémoa ou Semide, todos seguiam pelas encostas até ao alto, num percurso que simbolizava tanto o sacrifício como a fé.

Em finais do século XVII, o movimento de fiéis era já tão intenso que foi necessário ampliar a capela e construir hospedarias, para acolher os peregrinos que ali pernoitavam durante vários dias.

Hoje, o Divino Senhor da Serra continua a ser alvo de grande devoção, mantendo viva uma tradição que atravessa gerações e séculos. Em cada agosto, o santuário volta a encher-se de fé, música e cor, reafirmando-se como um símbolo espiritual e patrimonial do concelho de Miranda do Corvo e de toda a região centro.

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