O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, considerado um dos mais importantes expoentes da fotografia do mundo, morreu hoje, aos 81 anos, informou o Instituto Terra, organização não-governamental fundada pelo artista.
“Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora”, lê-se num comunicado do Instituto Terra
Conhecido pelo seu trabalho documental e por fotografar em preto e branco, Salgado foi laureado com os principais prémios de fotografia do mundo e morreu no dia em que é inaugurada a exposição “Venham Mais Cinco – O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa (1974–1975)”, em Almada, que inclui fotos suas tiradas durante a revolução.
PUBLICIDADE
O fotógrafo brasileiro morava com a mulher, Lélia Salgado, e o filho num apartamento em Paris, onde ocorreu a sua morte.
Nascido em Minas Gerais, em 1944, Salgado transformou o fotojornalismo registando a realidade de trabalhadores, conflitos, refugiados, povos originários e territórios em risco.
Formado em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo, e pós-graduado na Universidade de São Paulo (USP), foi obrigado a exilar-se em Paris, em 1969, durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), onde fez doutoramento em Economia e começou a trabalhar na Organização Internacional do Café como consultor no controlo de plantações em África.
Três anos depois, iniciou a sua carreira no fotojornalismo, também em Paris, onde trabalhou para agências de fotografia importantes como a Sigma, a Gama e a Magnum.
Em 1981 fotografou o atentado contra o ex-Presidente norte-americano Ronald Reagan, em Washington, ganhando projeção mundial e, com o dinheiro da venda das suas fotografias para jornais, realizou o seu primeiro projeto autoral em África, onde fez as suas primeiras reportagens sobre a seca e a fome no Níger e na Etiópia.
No seu primeiro livro, “Outras Américas”, de 1986, documentou a paisagem geográfica e humana de cidades do litoral brasileiro e de países como a Bolívia, o Chile, o Peru, o Equador, a Guatemala e o México.
No mesmo ano, criou uma das fotos mais icónicas da sua carreira, intitulada “Serra Pelada”, que o jornal The New York Times incluiu entre as 25 imagens que definem a modernidade desde 1955.
A imagem mostrava a realidade brutal de mineiros que trabalhavam em Serra Pelada, na floresta amazónica, local conhecido à época em que Salgado realizou os seus registos como a região que abrigava a maior extração de ouro a céu aberto do mundo.
Entre os trabalhos mais marcantes de Salgado destaca-se a cobertura do genocídio no Ruanda, em 1994.
Nos anos 2000 lançou “Êxodos”, no qual retratou movimentos migratórios do final do século 20 ocorridos devido a guerras, perseguições e desastres ambientais.
O continente africano, onde Salgado dizia sentir-se “em casa”, foi também tema de uma grande série de fotografias intitulada “África” (2007).
Salgado foi o personagem principal do documentário “O Sal da Terra” (2014), de Wim Wenders, que retrata as suas viagens à Papua Nova Guiné e ao Círculo Polar Ártico para o seu livro “Génesis”. O filme foi nomeado para o Óscar na categoria de melhor documentário.
O fotógrafo brasileiro também foi um ativista ambiental, que, com Lélia Salgado, fundou o Instituto Terra, um projeto de reflorestamento no Brasil que começou na fazenda que herdou do pai, em Minas Gerais, onde já plantou milhões de árvores promovendo a recuperação da Mata Atlântica, um dos mais importantes biomas brasileiros localizado principalmente no litoral, mas que se expande também para outras partes do sudeste do país.
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE