Investigadora defende no Vaticano doutoramento sobre manuscrito do Mosteiro do Lorvão

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 01-03-2018

A musicóloga Filipa Taipina defendeu o seu doutoramento no Instituto de Música Sacra, da Cúria Romana, tendo apresentado uma tese sobre o mais antigo livro português que reúne peças da missa, encontrado no Mosteiro do Lorvão.

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lorvão

O manuscrito, que data do início do século XIII, é “o mais antigo gradual [livro que reúne as peças da missa] português”, tendo sido encontrado no Mosteiro do Lorvão, em Penacova, distrito de Coimbra, disse à agência Lusa Filipa Taipina.

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“Foi o primeiro mosteiro cisterciense feminino em Portugal e eu fui a primeira mulher leiga, no Vaticano, a fazer uma tese nesta área”, sublinhou a musicóloga, considerando que a investigação levada a cabo em mais de quatro anos acabou por ser “um percurso rico de levar portas fora um sítio pequenino, mas de uma grande importância, em termos históricos”.

O contacto com o antigo manuscrito surgiu após ter visto fotografias do mesmo, enviadas por uma arquivista da Torre do Tombo.

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“Percebi que era sobre aquilo que tinha que fazer uma tese”, explicou.

O manuscrito, frisa, “é muito rico, mesmo em comparação com outros da mesma ordem na Europa”, realçando que, apesar de a Ordem de Cister ter o princípio de ser austera, os documentos na Península Ibérica não eram muito cumpridores do ascetismo e assumiam alguma riqueza, “no que concerne a iluminuras e ornamentações”.

Para a tese, Filipa Taipina analisou não apenas a música, “mas também o contexto histórico e litúrgico” do manuscrito, que tem quase 400 páginas.

Foi analisada “a escrita literária, a escrita musical, o conteúdo musical e ver qual a sua parentela, a que tradição pertencia”, acrescentou.

No exercício de comparação com outros manuscritos europeus da mesma época e da mesma ordem, Filipa Taipina identificou “características particulares da Península Ibérica”.

É no tipo de escrita e nas iluminuras que este manuscrito difere dos demais, sendo que a liturgia acaba por ser semelhante à encontrada em França.

“A liturgia era a forma de unificar o império e foi-se mantendo. No Mosteiro do Lorvão, no Mosteiro de Alcobaça ou em França cantavam-se as mesmas melodias – tudo isto em 1200. Isso foi algo que deu uma unidade cultural à Europa”, notou.

Para Filipa Taipina, o manuscrito vai dar-lhe trabalho “para o resto da vida”, considerando que “ainda há muito para estudar neste códice”, nomeadamente, do ponto de vista melódico.

Para além da continuação do estudo do gradual, a musicóloga pretende agora também cantar o códice, querendo fazer concertos no Lorvão, Lisboa e Porto, a partir do manuscrito.

 

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