Coimbra

Já se perguntou porque celebramos a Passagem de Ano? A história está aqui…

Notícias de Coimbra | 35 minutos atrás em 30-12-2025

Já se questionou alguma vez sobre a origem da passagem de ano? Muito antes das contagens decrescentes, do champanhe e do fogo de artifício, a humanidade já sentia a necessidade de marcar o fim de um ciclo e o início de outro, celebrando a renovação do tempo e da vida.

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O conceito da celebração do Ano Novo remonta à antiga Babilónia, por volta de 2000 a.C., através do festival conhecido como Akitu. Para os babilónios, o ano novo começava a meio de março, coincidindo com o equinócio da primavera, período associado ao “renascimento” da natureza e à fertilidade da terra.

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O festival Akitu prolongava-se por 11 dias e incluía procissões, banquetes e um ritual singular: a humilhação simbólica do rei. O monarca era despido e esbofeteado diante da estátua do deus Marduk, num ato destinado a provar a sua humildade. Se o rei chorasse durante o ritual, acreditava-se que o deus estava satisfeito e que o novo ano seria próspero.

Também os egípcios celebravam o Ano Novo de acordo com os ciclos naturais. A festa ocorria no verão, quando as águas do rio Nilo transbordavam, sinal de terras férteis e boas colheitas. As celebrações incluíam grandes banquetes, consumo de vinho de romã e homenagens à deusa Hathor, associada à alegria e à fertilidade. Já em Roma, o Ano Novo era originalmente celebrado a 1 de março, com rituais ligados à agricultura e à atividade militar.

Em 153 a.C., por motivos políticos, os romanos alteraram o início do ano para 1 de janeiro. Mais tarde, em 46 a.C., o imperador Júlio César oficializou essa data com a criação do calendário juliano, dedicando o primeiro dia do ano ao deus Jano, divindade de duas faces que simbolizava a passagem do passado para o futuro. As festividades romanas incluíam banquetes, oferendas ao deus, trocas de moedas, ramos de árvores sagradas e talismãs.

Com a consolidação do cristianismo, em 567 d.C., o Concílio de Tours condenou oficialmente as celebrações pagãs do Ano Novo a 1 de janeiro, consideradas excessivas e pecaminosas. Durante séculos, o início do ano passou a ser celebrado em datas como o Natal ou a Páscoa, através de cerimónias religiosas. Ainda assim, o povo manteve tradições populares, como a chamada Festa dos Tolos, uma celebração satírica realizada em janeiro, semelhante ao carnaval medieval.

Foi apenas em 1582 que o Papa Gregório XIII restaurou oficialmente o 1 de janeiro como início do ano, ao reformar o calendário. A mudança corrigiu um erro acumulado do calendário anterior, que já apresentava um desfasamento de dez dias em relação ao ciclo solar. A partir daí, as cortes europeias popularizaram o Réveillon, com bailes requintados e banquetes que se prolongavam pela noite dentro.

Entre o povo, as celebrações eram mais simples, mas igualmente simbólicas: fogueiras nas praças para “queimar” o ano velho, música, danças e a partilha de frutos secos e doces com mel, associados à prosperidade. Nas igrejas, o Ano Novo era assinalado com o hino Te Deum, em agradecimento pelo ciclo que terminava.

Com a Revolução Industrial, a passagem de ano sofreu uma transformação profunda. A introdução da luz elétrica e o aperfeiçoamento da pólvora deram origem aos espetáculos de fogo de artifício, que deixaram de servir apenas para afastar maus espíritos e passaram a simbolizar progresso, luz e modernidade.

A mudança mais marcante, contudo, foi a precisão do tempo. Com o surgimento das fábricas e dos comboios, os relógios tornaram-se centrais na organização da vida quotidiana. A passagem de ano deixou de ser um momento simbólico e passou a acontecer num instante exato: a meia-noite.

Foi essa precisão que, no século XX, deu origem à contagem decrescente. Através da rádio e da televisão, milhões de pessoas passaram a celebrar o mesmo segundo em simultâneo. O que começou como um ritual agrícola e religioso transformou-se num espetáculo global, mas manteve intacto o desejo universal de renovação, esperança e recomeço que atravessa todas as épocas.

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