Existe uma regra não escrita no mundo editorial: não escrever sobre a COVID-19. Depois de meses intermináveis de confinamento e incerteza, instalou-se um cansaço coletivo que levou muitos a querer fechar esse capítulo da história a sete chaves. No entanto, ao fazê-lo, também se deixaram para trás lições duramente aprendidas — lições que hoje voltam a ganhar relevância perante uma nova ameaça: a gripe aviária altamente patogénica.
Embora o risco de transmissão sustentada para humanos continue a ser considerado baixo, a gripe das aves está longe de ser inofensiva. Os vírus do tipo H5 têm sido devastadores para as populações de aves: milhões morreram e centenas de milhões foram abatidas para conter a propagação. Mais preocupante ainda é a crescente disseminação entre mamíferos. Até ao momento, pelo menos 74 espécies — de elefantes-marinhos a ursos polares — já registaram surtos com elevada mortalidade.
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Este fenómeno insere-se num contexto mais amplo. As explorações avícolas intensivas criam condições ideais para o vírus saltar entre espécies. Nos Estados Unidos, mais de mil explorações leiteiras testaram positivo nos últimos dois anos, tendo sido detectados fragmentos virais no leite — uma possível e inquietante via de transmissão. Cada novo salto representa mais uma oportunidade para o vírus se adaptar.
Na Europa, a situação também se agravou. Entre o início de Setembro e meados de Novembro de 2025, foram identificadas 1.444 aves selvagens infectadas em 26 países, um aumento de quatro vezes face ao mesmo período do ano anterior.
Os casos humanos continuam raros, mas graves. Desde 2003, registaram-se 992 infecções confirmadas por H5N1 em todo o mundo, com uma taxa de mortalidade próxima dos 50%. Ainda assim, os números estão a subir. Nas Américas, houve 75 casos desde 2022 e, em Novembro, os EUA registaram a primeira morte por H5N5, num doente com problemas de saúde pré-existentes. Na Europa, apesar de ainda não haver casos humanos confirmados, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças alerta que a ampla circulação do vírus entre animais aumenta o risco de transmissão, pode ler-se na Existe uma regra não escrita no mundo editorial: não escrever sobre a COVID-19. Depois de meses intermináveis de confinamento e incerteza, instalou-se um cansaço colectivo que levou muitos a querer fechar esse capítulo da história a sete chaves. No entanto, ao fazê-lo, também se deixaram para trás lições duramente aprendidas — lições que hoje voltam a ganhar relevância perante uma nova ameaça: a gripe aviária altamente patogénica.
Embora o risco de transmissão sustentada para humanos continue a ser considerado baixo, a gripe das aves está longe de ser inofensiva. Os vírus do tipo H5 têm sido devastadores para as populações de aves: milhões morreram e centenas de milhões foram abatidas para conter a propagação. Mais preocupante ainda é a crescente disseminação entre mamíferos. Até ao momento, pelo menos 74 espécies — de elefantes-marinhos a ursos polares — já registaram surtos com elevada mortalidade.
Este fenómeno insere-se num contexto mais amplo. As explorações avícolas intensivas criam condições ideais para o vírus saltar entre espécies. Nos Estados Unidos, mais de mil explorações leiteiras testaram positivo nos últimos dois anos, tendo sido detectados fragmentos virais no leite — uma possível e inquietante via de transmissão. Cada novo salto representa mais uma oportunidade para o vírus se adaptar.
Na Europa, a situação também se agravou. Entre o início de Setembro e meados de Novembro de 2025, foram identificadas 1.444 aves selvagens infectadas em 26 países, um aumento de quatro vezes face ao mesmo período do ano anterior.
Os casos humanos continuam raros, mas graves. Desde 2003, registaram-se 992 infecções confirmadas por H5N1 em todo o mundo, com uma taxa de mortalidade próxima dos 50%. Ainda assim, os números estão a subir. Nas Américas, houve 75 casos desde 2022 e, em Novembro, os EUA registaram a primeira morte por H5N5, num doente com problemas de saúde pré-existentes. Na Europa, apesar de ainda não haver casos humanos confirmados, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças alerta que a ampla circulação do vírus entre animais aumenta o risco de transmissão.
Especialistas sublinham que o problema não é apenas o vírus, mas a forma como os alertas são tratados. Estudos sobre falhas sistémicas antes de grandes catástrofes mostram um padrão recorrente: sinais precoces são detectados no terreno, mas perdem força à medida que sobem na cadeia de decisão, diluídos pela burocracia, por interpretações contraditórias ou pelo esquecimento institucional.
No caso da gripe aviária, a capacidade técnica de detecção ainda existe. Veterinários, virologistas e sistemas de vigilância continuam a identificar surtos e a sequenciar variantes. Contudo, a infraestrutura criada para responder precocemente está a enfraquecer. Em vários países, agências responsáveis pela vigilância de ameaças pandémicas enfrentam cortes orçamentais e falta de pessoal.
Um estudo realizado em 31 países europeus concluiu que a pandemia de COVID-19 revelou uma “lacuna crítica na preparação”, defendendo indicadores padronizados e dados abertos como base para respostas futuras. Apesar de o novo plano pré-pandémico da União Europeia ser considerado um passo positivo, persistem falhas no acompanhamento e na resposta quotidiana.
Do outro lado do Atlântico, os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA enfrentam igualmente dificuldades financeiras. Cientistas criticam a lentidão e a falta de transparência na divulgação de dados por parte das autoridades federais, o que tem dificultado o acompanhamento da evolução do vírus em animais.
No Reino Unido, a vigilância doméstica também está fragilizada, devido ao acesso reduzido a dados europeus e à escassez crónica de veterinários, comprometendo a detecção precoce. Quando os alertas enfraquecem dentro das instituições, raramente chegam ao público com a força necessária.
O resultado é uma perceção distorcida do risco. Inquéritos recentes mostram que a maioria dos americanos não considera a gripe aviária uma ameaça séria. A situação é agravada pelo facto de alguns casos humanos apresentarem sintomas ligeiros, como uma simples conjuntivite, passando despercebidos.
As autoridades de saúde sublinham que uma nova pandemia não é inevitável. A probabilidade de transmissão eficiente entre pessoas continua a ser baixa e existem hoje mais ferramentas do que antes da COVID-19: vacinas candidatas, protocolos mais claros e experiência acumulada. Ainda assim, “baixo” não significa “nulo”.
A maioria da população tem alguma imunidade à gripe sazonal, mas praticamente nenhuma às variantes H5. Além disso, a gripe não afecta apenas os mais vulneráveis: pandemias anteriores causaram elevada mortalidade entre adultos jovens e saudáveis. A erosão da confiança na ciência e nos especialistas agrava ainda mais o risco.
Ignorar a gripe aviária por fadiga, desatenção ou falta de investimento pode levar à repetição dos mesmos erros do passado. E, se isso acontecer, o próximo alerta poderá chegar tarde demais para que alguém possa dizer que não o viu aproximar-se.
Especialistas sublinham que o problema não é apenas o vírus, mas a forma como os alertas são tratados. Estudos sobre falhas sistémicas antes de grandes catástrofes mostram um padrão recorrente: sinais precoces são detectados no terreno, mas perdem força à medida que sobem na cadeia de decisão, diluídos pela burocracia, por interpretações contraditórias ou pelo esquecimento institucional.
No caso da gripe aviária, a capacidade técnica de detecção ainda existe. Veterinários, virologistas e sistemas de vigilância continuam a identificar surtos e a sequenciar variantes. Contudo, a infraestrutura criada para responder precocemente está a enfraquecer. Em vários países, agências responsáveis pela vigilância de ameaças pandémicas enfrentam cortes orçamentais e falta de pessoal.
Um estudo realizado em 31 países europeus concluiu que a pandemia de COVID-19 revelou uma “lacuna crítica na preparação”, defendendo indicadores padronizados e dados abertos como base para respostas futuras. Apesar de o novo plano pré-pandémico da União Europeia ser considerado um passo positivo, persistem falhas no acompanhamento e na resposta quotidiana.
Do outro lado do Atlântico, os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA enfrentam igualmente dificuldades financeiras. Cientistas criticam a lentidão e a falta de transparência na divulgação de dados por parte das autoridades federais, o que tem dificultado o acompanhamento da evolução do vírus em animais.
No Reino Unido, a vigilância doméstica também está fragilizada, devido ao acesso reduzido a dados europeus e à escassez crónica de veterinários, comprometendo a detecção precoce. Quando os alertas enfraquecem dentro das instituições, raramente chegam ao público com a força necessária.
O resultado é uma perceção distorcida do risco. Inquéritos recentes mostram que a maioria dos americanos não considera a gripe aviária uma ameaça séria. A situação é agravada pelo facto de alguns casos humanos apresentarem sintomas ligeiros, como uma simples conjuntivite, passando despercebidos.
As autoridades de saúde sublinham que uma nova pandemia não é inevitável. A probabilidade de transmissão eficiente entre pessoas continua a ser baixa e existem hoje mais ferramentas do que antes da COVID-19: vacinas candidatas, protocolos mais claros e experiência acumulada. Ainda assim, “baixo” não significa “nulo”.
A maioria da população tem alguma imunidade à gripe sazonal, mas praticamente nenhuma às variantes H5. Além disso, a gripe não afecta apenas os mais vulneráveis: pandemias anteriores causaram elevada mortalidade entre adultos jovens e saudáveis. A erosão da confiança na ciência e nos especialistas agrava ainda mais o risco.
Ignorar a gripe aviária por fadiga, desatenção ou falta de investimento pode levar à repetição dos mesmos erros do passado. E, se isso acontecer, o próximo alerta poderá chegar tarde demais para que alguém possa dizer que não o viu aproximar-se.
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