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Portugal reforça regulação enquanto receitas de casinos online atingem nível histórico

PUB | 3 horas atrás em 29-12-2025

Os casinos online portugueses continuam em altas e os números provam isso. 287 milhões de euros em receita bruta. Foi este o núero que o jogo online gerou em Portugal no 2º trimestre de 2025, número nunca antes atingido até então e, antes de avançar para o resto do artigo, acha que os portugueses preferem apostar em jogos de azar ou apostas desportivas? Se pensou em “jogos de azar” então está certo. 

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62% da receita mencionada anteriormente vai para jogos de azar. Por estes jogos entenda-se que são aquelas slots que vê num casino físico, mas neste caso, estão, em muitos casos, no smartphone dos apostadores. Será a música que desperta o interesse dos portugueses? Talvez o desejo de obter algum dinheiro extra, caso sejam bem-sucedidos? Há várias razões, mas enquanto o número aumenta, também as fiscalizações aumentam. 

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Outra coisa que também tem aumentado é o número de casas de apostas e casinos online portugueses. Já são 18 atualmente, e tende a aumentar. Contudo, todos eles têm regras restritas a nível de publicidade, por exemplo. E quando não são cumpridas existe uma entidade regulatória (SRIJ) que está encarregue de aplicar as devidas coimas. Venha daí que vamos explicar-lhe tudo ao detalhe.

Receitas em máximos históricos mostram um setor que já joga noutra liga

Os 287 milhões de euros em receita bruta online no segundo trimestre de 2025 não são apenas mais um número positivo para o setor. Representam um novo máximo histórico, superando em 25,2 milhões de euros o valor registado no mesmo período de 2024, o que corresponde a um crescimento de 9,6% em termos homólogos dos casinos online portugueses. Num mercado já maduro como o português, uma subida desta dimensão em apenas doze meses é tudo menos trivial.

Desse montante, 81,2 milhões de euros foram pagos ao Estado em IEJO apenas neste trimestre, um valor que mostra bem o peso fiscal que o jogo online já assume nas contas públicas. Para teres uma noção da evolução, em 2020 e 2021 o mercado online português ainda se situava na casa dos 200 milhões de euros por ano. Hoje, em 2025, as projeções apontam para mais de 1,1 a 1,2 mil milhões de euros de GGR acumulado ao longo dos quatro trimestres.

Este crescimento não é um acaso isolado. Ao longo de 2023 e 2024, os relatórios trimestrais do SRIJ já mostravam uma trajetória consistente, com pequenas oscilações, mas sempre em tendência ascendente. A própria Statista projeta que a receita total do jogo em Portugal, somando online e físico, chegue a cerca de 2,11 mil milhões de dólares em 2025, o que ajuda a enquadrar a dimensão real deste mercado.

Se olhares para estes números com atenção, percebes que o jogo online deixou definitivamente de ser um nicho e que os casinos online portugueses passaram a ser um dos motores silenciosos da economia digital portuguesa.

Casino online puxa pelo mercado enquanto slots e roleta dominam as escolhas

Se existe um grande responsável pelo crescimento do setor, ele chama-se casino online. No segundo trimestre de 2025, os chamados games of fortune, onde entram slots, roleta, blackjack, baccarat e jogos de casino ao vivo, geraram 177,8 milhões de euros em receita, uma subida de 12,2% face ao mesmo período de 2024 e de cerca de 4 a 5% em relação ao primeiro trimestre de 2025.

Mais impressionante ainda é o volume apostado. Entre abril e junho de 2025, os portugueses apostaram mais de 5 mil milhões de euros em casino online, um sinal claro de que falamos de um consumo frequente, com valores médios por sessão relativamente baixos, mas repetidos milhares de vezes por dia.

As slots continuam a ser o verdadeiro motor do crescimento, liderando tanto em número de rondas jogadas como em receita bruta. Logo atrás surge a roleta, sobretudo no formato de live casino, onde o fator de interação ao vivo com o dealer continua a atrair um público fiel. As mesas de cartas, como blackjack e baccarat, completam o pódio dos produtos mais populares.

Em 2025, o mercado deu ainda sinais claros de diversificação. A entrada de novos produtos de bingo online dedicados, como aconteceu com a licença de operadores ligados à YoBingo e BingoSoft, mostra que o portfólio vai além dos clássicos slots e roleta. Para ti, enquanto jogador, isto traduz-se em mais variedade, mais formatos e mais competição entre plataformas.

Dezoito operadores e trinta e uma licenças num mercado cada vez mais disputado

Em meados de 2025, o mercado português conta com 18 operadores licenciados e 31 licenças ativas. Destas, 13 são de apostas desportivas à cota e 18 de casino e bingo online, um número que cresceu com a entrada de um novo operador dedicado ao bingo.

Neste grupo estão marcas com forte notoriedade junto do público, como Betano, Betclic, Solverde, ESC Online, 888, Bwin, entre outras, todas sob supervisão direta do SRIJ. Isto significa que, apesar de regulado, o mercado é hoje fortemente competitivo, com várias empresas a disputar a mesma base de jogadores.

As licenças são atribuídas ao abrigo do Decreto-Lei n.º 66/2015, têm validade de três anos e só são renovadas se o operador cumprir requisitos exigentes de compliance, solvabilidade financeira, auditorias técnicas e políticas de jogo responsável. Importa sublinhar que cada licença é específica por vertical. Um operador pode ter licença para casino, mas não para apostas desportivas, ou vice-versa.

Na prática, isto obriga as empresas a desenhar modelos de negócio muito bem ajustados a cada produto. Também significa que a pressão concorrencial é elevada, sobretudo nos segmentos onde a oferta já está saturada.

Publicidade ao jogo volta ao centro do debate político em pleno crescimento

Em setembro e outubro de 2025, o tema da publicidade ao jogo regressou com força ao Parlamento. Partidos como o Livre apresentaram propostas para restringir campanhas com celebridades e influenciadores, limitar patrocínios desportivos e reforçar os avisos obrigatórios sobre o risco de dependência.

Algumas das propostas incluíam ainda a reavaliação da venda de raspadinhas em espaços de saúde, embora as medidas mais drásticas tenham sido rejeitadas em comissão parlamentar. Ainda assim, ficou claro que existe uma pressão política crescente para reduzir a presença do jogo no espaço mediático.

Se estas medidas avançarem, os operadores terão de reorganizar profundamente as suas estratégias de marketing. A exposição em televisão, redes sociais e camisolas de clubes poderá diminuir, afetando sobretudo a aquisição de novos jogadores. Para ti, enquanto consumidor, o efeito mais visível deverá ser uma presença menos agressiva do jogo no quotidiano, menos campanhas com figuras públicas e mais mensagens de alerta.

SRIJ aposta em tecnologia para transformar fiscalização em tempo quase real

Em 2025, o SRIJ deu mais um passo no reforço da supervisão tecnológica com a publicação das Instruções n.os 23/2025, 24/2025 e 25/2025. Estes documentos harmonizam os padrões de reporte em XML, os fluxos transacionais e os resumos financeiros horários para todos os verticals, incluindo o bingo online.

Na prática, estas medidas aumentam significativamente a capacidade de rastrear cada aposta, cada sessão de jogo e cada movimento financeiro. O controlo deixa de ser apenas reativo e passa a ser quase imediato, permitindo identificar padrões suspeitos e comportamentos de risco muito mais cedo.

Para as plataformas, isto traduz-se em investimento adicional em IT, equipas de compliance e integração de dados com os sistemas do regulador. Para ti, enquanto jogador, o efeito prático é mais transparência, históricos detalhados de apostas, limites de depósito e perda mais eficazes e uma maior probabilidade de deteção precoce de comportamentos problemáticos.

Proteção dos jogadores ganha peso político e aproxima Portugal da Europa

A Resolução n.º 161/2025, aprovada pelo Parlamento, veio reforçar a orientação política no sentido de modernizar o enquadramento do jogo, fortalecer os mecanismos de proteção do consumidor, combater o branqueamento de capitais e alinhar Portugal com as melhores práticas europeias.

O texto político destaca a necessidade de monitorizar o impacto do jogo online em grupos vulneráveis e de investir mais em prevenção, tratamento e campanhas de sensibilização. Os operadores já são obrigados a disponibilizar limites de depósito, ferramentas de autoexclusão, mensagens de aviso e contactos de ajuda, mas está em discussão a criação de sistemas de autoexclusão mais integrados, com partilha de listas entre plataformas.

Se olharmos para países como Espanha, França ou Suécia, percebemos que este é o caminho natural da regulação europeia. Tudo indica que Portugal continuará a avançar na mesma direção.

Entre a receita e o risco Portugal tenta encontrar o equilíbrio certo

Com o mercado online a crescer 9,6% em termos anuais e a gerar 287 milhões de euros num único trimestre, a grande questão passa a ser esta: será possível manter este ritmo de crescimento com regras de publicidade mais apertadas e exigências de compliance cada vez mais pesadas?

As projeções indicam que o setor do jogo em Portugal, somando online e físico, poderá aproximar-se dos 2,1 mil milhões de dólares em receita anual em 2025. O potencial económico é inegável. Mas também é evidente que o escrutínio político e social nunca foi tão intenso.

O cenário mais provável é um modelo em que o jogo online continua a crescer, mas com menos exposição mediática, mais controlo tecnológico e uma ênfase cada vez maior no jogo responsável. Um modelo semelhante ao dos mercados europeus que já viveram o seu próprio “boom” e depois apertaram as regras.

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