Saúde

Inesperado: Mexer no nariz pode estar associado ao Alzheimer

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 3 horas atrás em 25-12-2025

Imagem: depositphotos.com

Um estudo científico publicado em 2022 sugere a existência de uma ligação ténue, mas plausível, entre o hábito de mexer no nariz e um risco acrescido de desenvolver demência, incluindo a doença de Alzheimer.

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A investigação indica que, quando esse comportamento provoca danos no interior do nariz, pode facilitar a entrada de bactérias no cérebro, desencadeando processos semelhantes aos observados nesta doença neurodegenerativa.

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A investigação foi conduzida por uma equipa de cientistas da Universidade Griffith, na Austrália, e publicada na revista Scientific Reports. Os investigadores estudaram uma bactéria chamada Chlamydia pneumoniae, conhecida por causar infeções respiratórias em humanos, como pneumonia. Esta bactéria já tinha sido identificada anteriormente em muitos cérebros de pessoas com demência de início tardio.

Nos testes realizados em ratos, os cientistas observaram que a bactéria conseguia viajar ao longo do nervo olfativo — que liga a cavidade nasal ao cérebro — atingindo o sistema nervoso central num período surpreendentemente curto, entre 24 e 72 horas. Quando o epitélio nasal, o tecido protetor que reveste o interior do nariz, estava danificado, a infeção tornava-se mais grave.

Essa infeção levou ao aumento da produção da proteína beta-amiloide no cérebro dos ratos. Esta proteína está associada à resposta do organismo a infeções, mas também é conhecida por formar placas características encontradas em pessoas com doença de Alzheimer.

“Somos os primeiros a demonstrar que a Chlamydia pneumoniae pode entrar diretamente pelo nariz e alcançar o cérebro, onde pode desencadear patologias semelhantes às da doença de Alzheimer”, afirmou James St John, neurocientista da Universidade Griffith, aquando da publicação do estudo. “Observámos isto num modelo animal, e as evidências são potencialmente preocupantes também para os humanos.”

Os próprios investigadores sublinham, no entanto, várias limitações importantes. Até ao momento, os testes foram realizados apenas em animais, e não é ainda possível afirmar que o mesmo mecanismo ocorre em humanos. Além disso, continua por esclarecer se os depósitos de beta-amiloide são uma causa direta da doença de Alzheimer ou uma resposta imunológica que poderá ser revertida quando a infeção é controlada.

Ainda assim, os cientistas defendem que os resultados justificam investigações adicionais. “Precisamos de realizar este estudo em humanos e confirmar se a mesma via funciona da mesma forma”, explicou St John. “Sabemos que estas bactérias estão presentes em humanos, mas ainda não sabemos como chegam ao cérebro.”

O hábito de mexer no nariz é extremamente comum — estima-se que até nove em cada dez pessoas o façam. Embora seja muitas vezes encarado como inofensivo, os investigadores alertam que pode danificar o tecido protetor do nariz, facilitando a entrada de bactérias. “Não é uma boa ideia mexer no nariz ou arrancar os pelos nasais”, avisou St John. “Se danificarmos o revestimento interno, podemos aumentar a quantidade de bactérias que conseguem chegar ao cérebro.”

Uma revisão científica publicada em 2024 veio reforçar esta hipótese, sugerindo que o comportamento pode, de facto, desempenhar um papel no aumento do risco de desenvolver Alzheimer, embora sejam necessários mais dados para confirmar essa ligação.

A doença de Alzheimer continua a ser extremamente complexa e multifatorial. Embora a idade seja um dos principais fatores de risco — sobretudo após os 65 anos — os investigadores sublinham que a exposição ambiental também pode ter um papel relevante. “Não se trata apenas da idade”, concluiu St John. “Acreditamos que bactérias e vírus são fatores cruciais.”

Os cientistas esperam que estudos futuros em humanos ajudem a esclarecer se este mecanismo tem relevância clínica e se poderá abrir novos caminhos para a prevenção ou compreensão da doença.

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