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Cheio até rebentar… mas há sempre espaço para a sobremesa! A ciência explica

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 3 horas atrás em 25-12-2025

Depois de se afastar da mesa num almoço de Natal farto, sente-se plenamente satisfeito. Já não cabe mais nada… ou assim parece. Ainda assim, quando surge a sobremesa, há quase sempre espaço para “só um bocadinho”. Esta sensação é tão comum que tem até um nome no Japão: betsubara, que significa literalmente “estômago separado”.

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Do ponto de vista anatómico, não existe um compartimento extra reservado para o pudim ou o bolo-rei. No entanto, a ciência explica porque é que o desejo por algo doce persiste, mesmo quando a refeição principal já parece ter levado o corpo ao limite.

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Ao contrário da ideia de que o estômago é um saco rígido que se enche até não poder mais, este órgão é altamente adaptável. Durante a refeição ocorre a chamada “acomodação gástrica”: os músculos do estômago relaxam, permitindo que ele aumente de volume sem provocar um aumento significativo da pressão interna.

Além disso, sobremesas tendem a ser mais macias e fáceis de processar. Enquanto pratos principais ricos em proteínas e gorduras exigem maior digestão mecânica, alimentos como mousses, gelados ou pudins requerem pouco esforço inicial do estômago, o que contribui para a sensação de que ainda “cabem”.

Mas a explicação não está apenas no sistema digestivo. O cérebro tem um papel central neste fenómeno. Para além da fome fisiológica, existe a chamada “fome hedónica” — o desejo de comer motivado pelo prazer. Os alimentos doces são especialmente eficazes a ativar os circuitos cerebrais da recompensa, libertando dopamina e reduzindo temporariamente os sinais de saciedade, pode ler-se na Science Alert.

Outro fator importante é a chamada saciedade sensorial específica. À medida que se consome um determinado sabor ou textura, o interesse do cérebro por esse estímulo diminui. No entanto, a introdução de algo diferente — como um sabor doce após um prato salgado — renova a resposta de prazer e reabre o apetite.

Há ainda a questão do tempo. Os sinais hormonais responsáveis pela sensação de saciedade plena demoram entre 20 e 40 minutos a atuar por completo. Muitas decisões sobre a sobremesa são tomadas antes de esses sinais atingirem o seu efeito máximo, deixando espaço para que o desejo fale mais alto. Não é por acaso que muitos restaurantes apresentam a carta de sobremesas precisamente nesse intervalo.

A tudo isto soma-se a dimensão social e cultural. Desde cedo, associamos a sobremesa a celebração, recompensa e conforto. Em contextos festivos e sociais — como o Natal — é comum comer mais, especialmente quando a comida é partilhada e oferecida de forma generosa.

Assim, quando alguém afirma que já não consegue dar mais uma garfada do prato principal, mas aceita prontamente uma fatia de bolo, não está a ser incoerente. Está apenas a responder a um conjunto perfeitamente normal — e até sofisticado — de mecanismos biológicos, psicológicos e culturais que fazem da sobremesa uma tentação quase irresistível.

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