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“Doença do vómito” já circula na Europa (e Portugal não está imune)
Imagem: depositphotos.com
Não é apenas a chamada “supergripe” que está a deixar milhares de pessoas doentes nos Estados Unidos. O norovírus, conhecido por provocar surtos em navios de cruzeiro e por arruinar férias, está a regressar em força em vários estados norte-americanos e à Europa, impulsionado por uma nova variante considerada altamente contagiosa.
Dados recolhidos a partir da análise de águas residuais em todo o país indicam níveis elevados de norovírus, com uma tendência de crescimento ao longo dos últimos 21 dias. Em algumas regiões, os casos parecem estar a atingir o pico mais cedo do que o habitual, uma vez que a maioria das infeções ocorre normalmente entre dezembro e março. Meios de comunicação social locais, desde a Califórnia até ao Ohio, têm alertado a população para o aumento da circulação do vírus.
Apesar disso, os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) referem que a época de 2025-2026 se encontra, para já, dentro dos valores considerados normais e que o número de surtos registados até ao momento é inferior ao observado no mesmo período do ano passado.
Especialistas admitem que uma nova estirpe do vírus poderá estar a contribuir para os surtos registados nos últimos anos. A variante GII.17 substituiu a GII.14, anteriormente mais comum, durante a época de 2024-2025. Esta alteração poderá ter deixado mais pessoas vulneráveis à infeção, por não possuírem imunidade adquirida contra esta nova estirpe.
“Não temos uma noção clara de quanto tempo essa imunidade nos pode proteger, mas é provável que não ofereça proteção contra uma estirpe diferente”, explicou o médico Scott Roberts, professor assistente da Escola de Medicina da Universidade de Yale, em declarações ao programa TODAY.
O norovírus, muitas vezes apelidado de “doença do vómito de inverno”, é vulgarmente confundido com a gripe, embora não tenha qualquer relação com o vírus da influenza. Trata-se de um vírus de RNA da família Caliciviridae que provoca gastroenterite aguda, explica a IFL Science.
Bastam cerca de 10 partículas virais para causar infeção, o que explica a facilidade com que surgem surtos em espaços fechados, como navios de cruzeiro, lares ou escolas. A doença manifesta-se, em regra, entre 12 e 48 horas após a exposição, com sintomas súbitos como náuseas, vómitos intensos e diarreia.
Não existe tratamento específico para o norovírus e, na maioria dos casos, os sintomas desaparecem espontaneamente ao fim de dois ou três dias. No entanto, em pessoas mais vulneráveis — como idosos, crianças pequenas ou indivíduos com problemas de saúde — a infeção pode evoluir de forma grave e, em casos extremos, ser fatal. Nos Estados Unidos, o norovírus é responsável, em média, por cerca de 900 mortes por ano.
Um dos principais riscos associados à infeção é a desidratação. Situações ligeiras podem ser tratadas com o aumento da ingestão de líquidos e soluções de reidratação oral, mas casos de desidratação grave exigem assistência médica imediata.
Para além de extremamente contagioso, o norovírus não é facilmente eliminado com desinfetantes comuns para as mãos, sendo essencial lavar cuidadosamente as mãos com água e sabão. Para a limpeza de superfícies, são recomendados produtos que contenham cloro. Se alguém em casa tiver estado doente, a roupa de cama, toalhas e vestuário devem ser lavados separadamente e a temperaturas elevadas.
A higiene no manuseamento e preparação dos alimentos é igualmente fundamental. Pessoas que tenham tido norovírus recentemente não devem cozinhar para terceiros, uma vez que esta infeção é a principal causa de intoxicação alimentar nos Estados Unidos.
Mesmo após o desaparecimento dos sintomas, uma pessoa infetada pode continuar a transmitir o vírus durante duas semanas ou mais. Por isso, os especialistas recomendam cuidados redobrados de higiene para evitar novos contágios e minimizar o impacto da doença.
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