Portugal

Investigador sintetiza em livro “lendas e mitos” de 153 conventos e mosteiros de Portugal

Notícias de Coimbra | 15 minutos atrás em 17-12-2025

O investigador Alexandre Parafita sintetiza histórias, algumas envolvidas em lenda, de 153 conventos e mosteiros, na obra “Lendas e Mitos dos Mosteiros em Portugal”, recém-editada pela Zéfiro.

“Os mosteiros e conventos de Portugal são relíquias de um passado fascinante”, afirma o autor apontando-os como “testemunhos vivos de um tempo imemorial”, cuja “vida religiosa se cruza com a História de Portugal”.

Alguns destes edifícios estão classificados como monumentos nacionais e até como Património da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), como é o caso do Convento de Mafra, construído no cumprimento de um voto de João V que pretendia um herdeiro que nunca mais chegava.

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A obra não é exaustiva, isto é, não menciona todos os conventos e mosteiros existentes no país, mas entre os escolhidos o distrito de Lisboa, onde se localiza o de Mafra, é o mais representado com 17 mosteiros e conventos, seguindo-se, com 16, Braga e Porto, e depois Guarda, com 15.

Os 153 espaços de reclusão de homens e mulheres, visitados pela obra, apresentam-se divididos por distritos e regiões autónomas, mas há casos particulares. No conjunto de histórias, há um convento da Ordem Franciscana, sem localização identificada, onde o corpo de uma freira terá voado. Também na Sé de Angra do Heroísmo, um menino de coro ter-se-á atirado de uma torre sineira para fugir ao castigo de um padre, mas “o vento apanhou-o pela opa e levou-o nas suas asas” até ao convento de religiosas de N. S. da Esperança, “que ficava de muito mais de três ruas largas, do outro lado da Sé”.

O autor refere-se ao seu trabalho de investigação como “de cariz histórico e etnográfico” com base em fontes primárias, também bibliográficas, com uma utilização grande de autores dos séculos XVI, XVII e XVIII.

Parafita defende a sua “atitude crítica em relação aos impulsos romanceadores”, nomeadamente a partir das narrativas inspiradas na tradição oral.

Sobre a utilização dos termos “convento” e “mosteiro”, afirma Alexandre Parafita não ter encontrado “uma distinção rigorosa” – ambos são “lugares de recolhimento de religiosos cristãos” -, e reconhece que os termos podem levar “a uma natural confusão”, embora, de facto, não haja “uma dualidade conceptual”.

O investigador esclarece, porém, que os mosteiros são comunidades contemplativas, “implantados em locais isolados para favorecer o silêncio e a reclusão”.

Já os conventos são “mais voltados para a vida comunitária” com frades e freiras a dedicarem-se a “atividades religiosas e sociais de impacto no meio envolvente”.

Em Portugal, os mais antigos conventos e mosteiros remontam ao século XII, tendo surgido no âmbito da reconquista cristã, iniciada em 718-722, a partir das Astúrias, com a Batalha de Covadonga, marcando o início do processo que quatro séculos mais tarde daria origem à fundação de Portugal.

O investigador sublinha o “papel crucial” das comunidades religiosas “na organização do território português, consolidando o poder cristão” frente aos territórios ainda sob domínio islâmico, após a invasão muçulmana de 711.

Sobre o Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, fundado em 1131, que foi um centro de difusão do ensino e da Cultura, também decisivo para a obra e a figura de Afonso Henriques, diz o autor que foi “o que hoje se chamaria um ‘gabinete de comunicação e imagem’”.

A prática foi seguida por outras instituições, como o Mosteiro do Lorvão, no concelho de Penacova, distrito de Coimbra, o Convento de Cristo, em Tomar, o Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, em Felgueiras, no distrito do Porto, e os mosteiros de Alcobaça, no distrito de Leiria, de S. João de Tarouca, no distrito de Viseu, e o de S. Vicente de Fora, em Lisboa.

O autor realça o papel militar desempenhado por várias ordens religiosas como a de Avis e a dos Templários, não só no período da reconquista cristã, como séculos mais tarde, quando alguns “enfrentaram, com armas, os invasores franceses que vinham delapidando conventos e mosteiros”.

Algumas ordens religiosas, como a dos Carmelitas, no Porto, envolveram-se diretamente na política, na guerra civil que durou entre 1828 e 1834, tendo estes tomado partido dos absolutistas, liderados por Miguel I.

Alexandre Parafita recorre às expressões populares como “salvar a honra do convento” ou “o que vai no convento só o sabe quem lá está dentro”, para afirmar que mosteiros e conventos têm “o seu quê de secreto e misterioso”, alguns experimentando “perturbações escandalosas”, como um pajem do bispo de Braga que visitava secretamente uma freira no Convento de N. S. da Conceição, naquela cidade, e que tendo sido descoberto foi queimado vivo e sepultado em local secreto, salvando-se assim “a honra do convento”.

O investigador considera ainda que é de assinalar “a importância dos mosteiros e conventos femininos na promoção da condição feminina em Portugal”, e cita o caso da poetisa Leonor de Almeida Portugal (1750-1839), marquesa de Alorna, que numa das suas cartas afirmou que os tempos de prisioneira no convento de Celas lhe permitiram “desenvolver-se intelectualmente”.

Outra área referida pelo autor é a doçaria conventual, “com segredos ancestrais, por vezes bem escondidos, na sua confeção”, citando várias especialidades doceiras e o respetivo convento ou mosteiro.

O autor lança o repto para se “visitar estes monumentos”, destacando as suas “potencialidades de um promitente turismo religioso e cultural”.

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