Saúde

Respirar pelo “bumbum”? Ciência estuda técnica que pode salvar vidas

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 hora atrás em 10-12-2025

Pode soar improvável, mas a ciência está a explorar seriamente a possibilidade de usar o intestino como via alternativa para respirar quando os pulmões deixam de funcionar.

O conceito — conhecido informalmente como “respiração pelo rabo” — tem vindo a ganhar força graças aos resultados surpreendentes de uma equipa internacional liderada pelo médico e biólogo Takanori Takebe, especialista em organoides do Hospital Pediátrico de Cincinnati.

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A inspiração para esta investigação veio de um peixe semelhante a uma enguia que, em ambientes com pouco oxigénio, consegue sobreviver engolindo ar e absorvendo-o através do intestino. A pergunta que se seguiu foi inevitável: e se isto também pudesse ajudar humanos em falência respiratória?

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Doenças como pneumonia grave, lesões respiratórias, inflamações das vias aéreas e até crises como a da COVID-19 podem impedir o corpo de obter oxigénio suficiente. Segundo Takebe, a respiração enteral pode oferecer uma via alternativa vital em cenários de insuficiência respiratória severa.

O método envolve a administração, através do reto, de um fluido chamado perfluorocarbono, capaz de transportar níveis extremamente altos de oxigénio. O intestino grosso, ricamente vascularizado, absorveria então esse oxigénio para a corrente sanguínea.

Os primeiros resultados foram impressionantes. Em ratos e porcos, clisters com líquido rico em oxigénio permitiram que os animais sobrevivessem a períodos de oxigénio muito reduzido. Nos porcos, uma dose de 400 ml aumentou a oxigenação do sangue durante 19 minutos. Em estudos posteriores, a saturação de oxigénio chegou a ser mantida por meia hora.

No Japão, a equipa testou a segurança do método em 27 homens voluntários saudáveis, administrando perfluorodecalina não oxigenada (para garantir segurança antes de testar oxigénio real). As doses variaram entre 25 ml e 1,5 litros.

Participantes que receberam até 1 litro toleraram bem o procedimento, sentindo apenas inchaço e desconforto leve. No grupo dos 1,5 litros, quatro dos seis voluntários tiveram de interromper devido a dores abdominais.

Embora preliminares, os resultados sugerem que o método pode ser seguro em doses mais baixas, abrindo caminho para testes que visem realmente aumentar o nível de oxigénio no sangue.

Os cientistas alertam que ainda é necessário: aperfeiçoar o sistema de administração; determinar quanto oxigénio pode ser absorvido de forma consistente; estudar o tempo máximo de suporte respiratório por via intestinal; avaliar potenciais riscos a longo prazo.

Apesar do caráter insólito da técnica, Takebe recebeu em 2024 um Prémio Ig Nobel, distinção humorística que celebra descobertas científicas que “primeiro fazem rir e depois fazem pensar”.

E, neste caso, pensar é precisamente o que os especialistas estão a fazer — porque a ideia que parece saída de um desenho animado poderá, um dia, salvar vidas quando os pulmões já não conseguem fazê-lo.

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