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Mona Lisa: a origem da sua “imortalidade”

Notícias de Coimbra | 55 minutos atrás em 10-12-2025

La Gioconda, ou Mona Lisa, é uma pintura criada pelo artista Leonardo da Vinci em 1503. Representa uma “dama sorridente ou alegre”, como indica a tradução do termo gioconda.

Apesar do seu encanto e da técnica extraordinária, a Mona Lisa não foi, durante séculos, uma obra particularmente famosa para o grande público. O auge da sua notoriedade só surgiu após ter sido roubada em 1911 por um funcionário do Museu do Louvre, Vincenzo Peruggia.

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O roubo ocorreu numa segunda-feira, 21 de agosto — dia em que o museu se encontrava encerrado para manutenção e limpeza. Assim, a ausência da pintura só foi percebida no dia seguinte. O desaparecimento tornou-se manchete de jornais e revistas por toda a Europa, motivando inclusive doações monetárias destinadas à busca pelo quadro. O jornal Le Matin ofereceu 5.000 francos, L’Illustration contribuiu com 40.000 francos e a associação Amigos do Louvre disponibilizou mais 25.000 francos. Estas recompensas serviam tanto para apoiar a polícia francesa, sob intensa pressão pública, como para encorajar informadores ou quem encontrasse a obra a devolvê-la.

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A investigação mergulhou rapidamente no caos, com diversos artistas e intelectuais apontados como suspeitos — entre eles Pablo Picasso, Géry Pieret e Guillaume Apollinaire.

Pieret, antigo secretário de Apollinaire, tinha roubado anteriormente estatuetas ibéricas do Louvre e vendido algumas a artistas, inclusive a Picasso, o que bastou para lançar suspeitas sobre ambos. Apesar disso, todos foram declarados inocentes.

Dois anos depois, Vincenzo Peruggia foi encontrado na província de Como, em Itália, graças à denúncia de um comerciante de antiguidades. Ele confessou o crime alegando patriotismo: dizia acreditar que a pintura havia sido roubada por Napoleão e que pretendia devolvê-la ao seu país. Na verdade, La Gioconda fora adquirida legitimamente pelo rei francês Francisco I em 1516, integrando as coleções reais que, após a Revolução Francesa, passaram para o Louvre. Confirmada a autenticidade da obra, Peruggia foi condenado a um ano e quinze dias de prisão.

O “sequestro” da Mona Lisa provocou uma enorme convulsão cultural na Europa e ajudou a transformar a pintura de Da Vinci numa obra mundialmente famosa, despertando debates sobre a sua identidade, significado e o enigma do seu sorriso.

Ao longo dos séculos, a Mona Lisa sempre carregou um halo de mistério — talvez devido à expressão ambígua, à técnica inovadora do sfumato ou ao olhar que parece seguir o observador. Contudo, é provável que, sem o roubo de 1911, muitos desses enigmas não tivessem recebido tanta atenção, nem a obra alcançasse a dimensão simbólica que possui hoje.

Entre os mistérios mais discutidos está a verdadeira identidade da modelo. A teoria mais aceite identifica-a como Lisa Gherardini, esposa do mercador florentino Francesco del Giocondo — hipótese reforçada pela descoberta, em 2005, de uma nota marginal escrita em 1503 por Agostino Vespucci, funcionário da chancelaria de Florença, mencionando explicitamente que Leonardo estava então a trabalhar num retrato de Lisa del Giocondo.

Ainda assim, alguns especialistas mantêm reservas, pois não existe confirmação absoluta. Outros mistérios envolvem detalhes ocultos revelados por análises técnicas, possíveis camadas subjacentes e interpretações simbólicas do famoso sorriso. A paisagem de fundo, por exemplo, tem sido alvo de inúmeras teorias. Em maio de 2024, a geóloga e historiadora de arte Ann Pizzorusso alegou ter identificado o cenário como a cidade de Lecco, nas margens do Lago de Como, no norte da Itália, ao comparar a ponte, as montanhas alpinas e o lago representados na pintura com elementos reais da região. A teoria ganhou destaque, mas continua a ser apenas uma entre várias propostas, e o consenso entre especialistas ainda está longe.

Muitos destes enigmas foram parcialmente esclarecidos, mas permanecem envoltos em dúvidas — e é precisamente esta combinação de mistério, história e acaso que garante a verdadeira “imortalidade” da obra-prima de Leonardo da Vinci.

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