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Perdemos a capacidade de mexer cada dedo do pé (como os chimpanzés). Porquê?

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 23 minutos atrás em 08-12-2025

Visitar o jardim zoológico logo de manhã é um dos prazeres do antropólogo Steven Lautzenheiser — sobretudo quando observa os chimpanzés, animais que, além de serem os nossos parentes genéticos mais próximos, exibem capacidades físicas que os humanos perderam ao longo da evolução. Uma dessas habilidades chama sempre a atenção: a agilidade com que usam os pés para agarrar objetos, como se fossem mãos.

Num fim de semana recente, Lautzenheiser observou Ripley, um chimpanzé macho do zoo de Knoxville, recolher fruta e legumes com os pés, agarrar mangueiras penduradas e manusear palha com uma destreza que despertou alguma inveja. E a pergunta surgiu naturalmente: porque é que os humanos não conseguem usar os pés desta forma?

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A resposta está na evolução, na anatomia e até na organização do cérebro, explica o professor da Universidade do Tennessee, especializado na biomecânica do pé e tornozelo humanos.

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Os chimpanzés continuam adaptados a um estilo de vida que combina movimento no solo e em árvores, enquanto os humanos seguiram outro caminho evolutivo. À medida que os nossos ancestrais passaram a andar eretos, os pés tiveram de se transformar para garantir equilíbrio e suportar o peso do corpo, tornando-se estruturas mais rígidas e estáveis, dá conta uma pesquisa publicada no The Conversation.

Com essa mudança, a capacidade de mover os dedos dos pés individualmente perdeu importância. Em contraste, as mãos ganharam protagonismo, com a evolução a favorecer maior precisão e controlo para atividades como fabricar ferramentas, escrever ou tocar instrumentos.

As diferenças anatómicas são claras. Uma mão humana tem 34 músculos, muitos dedicados à movimentação independente dos dedos. Um pé humano tem 29 músculos, a maioria dedicada ao equilíbrio e à locomoção.

Os quatro dedos mais pequenos do pé não têm músculos próprios. Movem-se graças a músculos da planta do pé e da perna, que os acionam em conjunto — daí ser difícil mexer apenas um dedo de cada vez.

O dedo grande (hallux) é uma exceção: possui músculos específicos, essenciais para impulsionar o corpo ao caminhar.

O córtex motor — a “central de comandos” do movimento — dedica muito mais neurónios aos dedos das mãos do que aos pés. Isso permite aos dedos superiores executar tarefas que exigem precisão extrema. Os pés, por outro lado, recebem muito menos “atenção cerebral”, privilegiando movimentos amplos e estáveis, fundamentais para caminhar e correr.

É por isso que não conseguimos agarrar objetos com os pés como Ripley faz. A evolução priorizou: estabilidade e equilíbrio nos pés e precisão e destreza nas mãos.

Mesmo que não usemos os pés como os chimpanzés, a troca compensou: graças às mãos, criámos arte, ferramentas, tecnologia e até escrevemos artigos como este.

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