Uma nova investigação publicada na revista Neurology revela que alterações subtis nos hábitos de condução dos idosos podem funcionar como um dos primeiros sinais de declínio cognitivo, muito antes de surgirem sintomas clínicos evidentes ou de ocorrer um acidente grave.
O estudo analisou 298 adultos, com uma idade média de 75 anos, entre os quais 56 já diagnosticados com défice cognitivo ligeiro (DCL), condição frequentemente precursora da doença de Alzheimer. Os investigadores instalaram dispositivos GPS nos veículos dos participantes e acompanharam o seu comportamento ao volante durante até 40 meses, registando em detalhe as rotas, frequências de utilização e padrões de condução.
Os resultados mostraram diferenças claras entre idosos saudáveis e aqueles com défice cognitivo ligeiro. Os participantes com DCL tendiam a: conduzir menos vezes ao longo da semana; visitar menos locais e deslocar-se para destinos mais previsíveis; escolher percursos mais simples e familiares; evitar exceder limites de velocidade; e demonstrar menor variedade e espontaneidade na escolha das rotas.
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Mesmo depois de ajustados fatores como idade, escolaridade e risco genético para Alzheimer, estes padrões mantiveram-se como indicadores significativos de alteração cognitiva.
Por si só, os dados recolhidos através do GPS permitiram identificar casos de DCL com 82% de precisão. Quando combinados com avaliações clínicas tradicionais, a precisão subiu para 87%.
O autor principal, Ganesh Babulal, sublinha que identificar idosos com risco de condução insegura é uma prioridade de saúde pública, mas também um desafio: “É difícil e exige muito tempo. A monitorização baseada em GPS revelou-se mais informativa do que marcadores tradicionais como a idade ou testes de memória isolados.”
Os investigadores consideram que pequenas mudanças na forma de conduzir podem ser uma janela discreta e não invasiva para a saúde do cérebro, já que a condução exige coordenação, atenção, memória e tomada de decisões — funções que começam a ser afetadas nos estágios iniciais do declínio cognitivo.
Embora parte das alterações possa refletir uma autorregulação natural associada ao envelhecimento, os cientistas defendem que padrões consistentes e repetitivos podem ajudar a detetar problemas muito cedo, permitindo intervenções antecipadas e maior proteção dos condutores e da comunidade.
O estudo reforça a importância de monitorizar a saúde cognitiva de forma contínua e sugere que, no futuro, os automóveis poderão desempenhar um papel decisivo na deteção precoce de doenças neurológicas.
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