A qualidade da água que consumimos está no centro de inúmeros estudos e debates, sobretudo numa época em que se fala cada vez mais de microplásticos e químicos sintéticos.
Da água engarrafada aos recipientes que usamos em casa, várias fontes podem contribuir para a nossa exposição a substâncias potencialmente nocivas. Mas quão preocupante é esta realidade — e o que recomendam os especialistas?
As substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas (PFAS) estão presentes no quotidiano há décadas. Usadas em roupas impermeáveis, embalagens alimentares e até espuma de combate a incêndios, acabaram também por contaminar parte do abastecimento de água.
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Existem milhares de tipos diferentes de PFAS, o que torna a sua regulação complexa. E embora alguns sejam classificados como cancerígenos, a água que bebemos pode não ser a principal fonte de exposição.
“Os PFAS estão por todo o lado e muitos são conhecidos por serem perigosos”, explica Patrick Byrne, professor de ciências da água na Universidade John Moores de Liverpool. “Mas, como também os encontramos na dieta ou até na roupa que vestimos, é improvável que a água represente a maior parcela da exposição”.
Os microplásticos variam entre fragmentos visíveis e partículas microscópicas que podem infiltrar-se no ambiente e no organismo. A água engarrafada, segundo investigadores, pode conter mais microplásticos do que a água da torneira, e até garrafas reutilizáveis podem libertá-los.
Segundo Thomas Henry, professor de toxicologia ambiental na Universidade Heriot-Watt, ainda há muitas questões em aberto: “As duas grandes preocupações são se a exposição está a aumentar e se as substâncias associadas aos microplásticos apresentam sinais de toxicidade.”
Um dos estudos mais citados observou que doentes cardíacos com microplásticos no sangue tinham maior probabilidade de sofrer um ataque cardíaco ou AVC. Mas a relação não é conclusiva. “Pode acontecer que sejam as próprias placas arteriais que captam microplásticos com mais eficiência — e não os microplásticos a causar a doença”, explica Tamara Galloway, professora de ecotoxicologia na Universidade de Exeter.
Outra preocupação prende-se com os aditivos químicos presentes nos plásticos, como o bisfenol A (BPA) e os ftalatos, associados a riscos cardiovasculares, hormonais e até cancerígenos. Apesar de muitos produtos se anunciarem “livres de BPA”, vários são substituídos por compostos semelhantes, como BPS ou BPF, que podem ter efeitos igualmente disruptivos , pode ler-se na Men’s Health.
“Na indústria chamamos a isto bater numa toupeira: proíbe-se um químico e surge outro praticamente igual”, afirma Byrne.
Para reduzir a exposição, os especialistas recomendam substituir recipientes de plástico por garrafas de metal ou vidro, especialmente para uso diário.
Os filtros podem ser uma solução útil — mas não todos. Um estudo de 2023 mostrou que alguns modelos removem também minerais essenciais, como cálcio e magnésio. Outros, se mal mantidos, tornam-se verdadeiros focos de bactérias.
Filtros estilo jarro podem remover entre 50% a 90% dos PFAS, segundo um estudo da Universidade de Birmingham. No entanto, os especialistas recomendam verificar sempre certificações como a NSF International, que atestam a eficácia do equipamento.
Ainda assim, o professor Henry avisa que a preocupação não deve transformar-se em medo: “Não deixe que a ansiedade o impeça de se hidratar adequadamente.”
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