A época natalícia aproxima-se, e é para muitos, sinónimo de abundância: mesas repletas de pratos tradicionais, doces apelativos e copos que se erguem em celebração. Neste ambiente festivo, é fácil descurar os potenciais impactos na saúde, especialmente no fígado, um órgão tantas vezes esquecido.
A esteatose hepática, conhecida como “gordura no fígado”, é uma condição cada vez mais comum e não afeta apenas quem consome álcool de modo excessivo. Está associada a obesidade, hábitos sedentários e dietas ricas em açúcares e gorduras. A acumulação de gordura no fígado pode evoluir silenciosamente, sem causar sintomas no imediato, e quando não detetada e tratada a tempo, progredir para doenças graves como cirrose e cancro do fígado.
É precisamente em épocas como o Natal, que devemos estar mais atentos aos factores de risco para esteatose hepática. De facto, nos múltiplos convívios, os excessos alimentares e alcoólicos são, muitas vezes, socialmente aceites ou até incentivados. Encontrar um equilíbrio é desafiante, mas é possível desfrutar sem comprometer a saúde, lembrando que a moderação é uma forma de autocuidado. Servir porções mais pequenas, incluir fruta fresca em vez de sobremesas repetidas, escolher métodos de confeção mais leves (como assados e cozidos em vez de fritos), e lembrar a ingestão de água são gestos simples que podem fazer a diferença.
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Por outro lado, o exercício físico, mesmo que apenas sob a forma de caminhadas após as refeições, ajuda a compensar o excesso calórico, ao melhorar a digestão e manter o metabolismo ativo. Dormir bem e gerir o stress típico da quadra são igualmente importantes para proteger e melhorar o nosso bem-estar físico e emocional.
Importa sublinhar que estes cuidados e a escolha consciente de um estilo de vida saudável devem ser encarados como um compromisso que possamos manter ao longo do ano. Consultas médicas regulares, análises de rotina e atenção ao peso corporal são essenciais para detetar precocemente alterações hepáticas e prevenir complicações futuras.
Celebrar não tem de significar descuidar. Ao optarmos por consumir menos e dar prioridade ao que importa – partilha, encontro e presença, o Natal torna-se mais significativo. E cuidarmos de nós e de quem está connosco, é talvez o melhor presente que podemos oferecer.
OPINIÃO | Alexandra Martins do serviço de Gastrenterologia da ULS Amadora Sintra, Hospital CUF Cascais
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