Saúde
Coimbra e Porto unem-se em descoberta que promete travar uma das piores formas de insuficiência cardíaca
Investigadores das universidades do Porto e de Coimbra encontraram uma forma de “rejuvenescer o coração”, atuando “diretamente sobre os mecanismos celulares do envelhecimento” e combater uma das variantes mais graves da insuficiência cardíaca, foi hoje divulgado.
Em causa está a insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (HFpEF), que acontece quando “o ventrículo esquerdo perde a flexibilidade necessária para relaxar e encher-se adequadamente”, explica, em comunicado, o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S).
“Estamos a transformar o paradigma da terapêutica cardiovascular: não se trata apenas de aliviar sintomas, mas de atuar diretamente sobre os mecanismos celulares do envelhecimento, que estão na origem da disfunção orgânica associada à idade”, sustenta Elsa Silva, investigadora do i3S e primeira autora do artigo.
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Inês Tomé, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), integrado no Centro de Inovação de Biomedicina e Biotecnologia (CIBB), observa que o estudo desenvolvido “mostra que é possível intervir diretamente nos mecanismos celulares do envelhecimento para tratar doenças altamente incapacitantes”.
Os investigadores do trabalho publicado na segunda-feira na revista Cardiovascular Research usaram um modelo animal que mimetiza a HFpEF humana em contexto cardiometabólico e observaram “uma acumulação de células senescentes no sistema imunitário, nos vasos sanguíneos e no coração”.
“Trata-se de células envelhecidas que pararam de se dividir, mas que permanecem no corpo e libertam substâncias inflamatórias que prejudicam as células de tecidos vizinhos, acelerando o processo de envelhecimento e contribuindo para o desenvolvimento de doenças”, descreve o i3S.
Após a administração de um fármaco senolítico, que elimina as células senescentes, os investigadores testemunharam “um alívio simultâneo dos múltiplos sintomas da HFpEF”.
“Há um impacto direto na saúde cardiovascular e sistémica”, afirma Diana S. Nascimento, coordenadora da equipa do i3S e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).
De acordo com Lino Ferreira, líder da equipa do CNC-UC/CIBB e da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, o trabalho “realça o enorme potencial da medicina de rejuvenescimento como abordagem terapêutica para doenças complexas e multifatoriais como a HFpEF”.
Os investigadores destacam ainda que “níveis elevados de leucócitos (células sanguíneas do nosso sistema imunitário) senescentes em circulação foram observados em doentes com HFpEF, estando associados a uma maior severidade da doença, sugerindo assim que esta abordagem poderá ter relevância clínica direta”.
Sublinham que o trabalho “representa um marco na convergência da medicina antienvelhecimento e cardiovascular, apenas possível através de uma forte colaboração entre três instituições portuguesas de referência em investigação cardiovascular, medicina regenerativa e envelhecimento”.
As equipas estão já a planear os próximos passos para “avaliar os mecanismos que causam o envelhecimento precoce em contexto cardiovascular e desenvolver novas terapias mais personalizadas, com vista à sua futura translação clínica”, refere o i3S.
As consequências da HFpEF são “falta de ar, fadiga incapacitante, limitação para tarefas simples do quotidiano e, sobretudo, uma taxa de mortalidade equiparável à de vários tipos de cancro”, explica o i3S.
“Esta forma de insuficiência cardíaca está a aumentar a um ritmo alarmante e, devido ao envelhecimento da população, prevê-se que se torne dominante num futuro próximo”, acrescenta.
A gravidade da HFpEF “é agravada pelo facto de estar frequentemente associada a outras patologias prevalentes, como hipertensão, diabetes e obesidade”, tornando esta insuficiência cardíaca num dos “maiores desafios da medicina cardiovascular contemporânea”.
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