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Universidade de Coimbra desvenda segredo milenar que salva gigante da Amazónia

Notícias de Coimbra | 23 minutos atrás em 02-12-2025

O valor do conhecimento local e da organização das comunidades na criação de estratégias de proteção para a pesca de pirarucu (Arapaima gigas) foi revelado por um estudo que contou com a participação de um investigador da Universidade de Coimbra.

Através do trabalho, publicado hoje no Journal of Applied Ecology, explica-se como essas estratégias podem ser aplicadas a outros sistemas socioecológicos, utilizando redes espaciais e modelação de meta-população, dentro e fora da Amazónia, segundo um comunicado enviado à agência Lusa pela Universidade de Coimbra (UC).

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A investigação conta com a participação de Sérgio Timóteo, investigador do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

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De acordo com o investigador, na Bacia do rio Juruá, na Amazónia Ocidental brasileira, a cogestão do pirarucu – o maior peixe de água doce do mundo – tem atraído atenção para a sua conservação, uma vez que a proteção dos lagos de meandro pelos habitantes locais tem favorecido a recuperação da espécie, que estava à beira da extinção, beneficiando a biodiversidade e o bem-estar das comunidades.

“Entre as várias possibilidades, a escolha dos lagos a proteger é feita por pescadores locais experientes, que se baseiam no conhecimento ecológico acumulado ao longo de gerações sobre as dinâmicas sazonais do rio e o comportamento dos peixes”, afirmou Sérgio Timóteo.

Segundo o investigador, citado na nota, “este conhecimento local é combinado com políticas regulatórias que definem quotas anuais de pesca para os lagos em cogestão, com o objetivo de garantir a sustentabilidade do sistema e prevenir a pesca ilegal”.

Os autores do trabalho desenvolveram seis cenários alternativos de cogestão da pesca na região, baseados em dados populacionais de pirarucu recolhidos entre 2011 e 2022 por pescadores locais em 13 lagos protegidos e 19 lagos não protegidos.

A equipa construiu uma rede espacial, na qual os 31 lagos se ligam entre si, dependendo da sua posição geográfica, estado de proteção e ecologia do pirarucu.

O estudo foi utilizado para desenvolver um modelo populacional que tem em conta o número de adultos de pirarucu em cada lago ao longo do tempo, o crescimento populacional e a capacidade de carga de cada lago.

Os cenários alternativos propostos envolvem mudanças nos lagos protegidos com base em fatores como ligações entre lagos, área, posição geográfica, capacidade de carga ou sem critérios específicos.

Os autores também modelaram diferentes níveis de pesca ilegal nos lagos não protegidos.

“Os resultados foram surpreendentes. Embora uma estratégia baseada na capacidade de carga ofereça resultados mais eficientes, o esquema de cogestão existente apresentou um desempenho muito próximo. Isto realça a importância e a fiabilidade do conhecimento local dos pescadores, já que os lagos geridos pelas comunidades mantiveram populações elevadas de pirarucu e são importantes refúgios contra a sobre-exploração”, apontou.

Além do conhecimento sobre a região do Juruá e a Amazónia, o trabalho fornece um guia para integrar o conhecimento local e a modelação ecológica, promovendo a sustentabilidade em ecossistemas complexos em todo o mundo.

Segundo o investigador, os resultados “reforçam o valor do conhecimento ecológico local na definição de planos de conservação espacial” na Amazónia.

“Ao selecionar quais os lagos que devem ser protegidos ou geridos de forma sustentável, os pescadores locais realizam uma análise multidimensional que considera vários fatores, como a ecologia dos peixes, as condições ambientais do lago e os aspetos logísticos de acesso”, assinalou.

O investigador concluiu que este processo “representa a materialização de uma tecnologia social complexa, forjada ao longo de milénios de interações entre pessoas e a natureza”.

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