A Companhia da Chanca e Art’ Ventus Quintet estreiam na segunda-feira, em Penela, um concerto-espetáculo sobre o 25 de Abril, a partir de testemunhos sobre aquela época de habitantes daquele concelho do interior do distrito de Coimbra.
O título do espetáculo, “25 de Abril: Chovia Muito e Chegou o Trator Novo”, remete para um dos testemunhos de habitantes de Penela recolhidos pela Companhia da Chanca e que aponta para uma reação muito diferente daquela que se fazia sentir nas principais cidades do país.
“Este era um território onde há 50 anos se sentia ainda mais a interioridade. Eram assuntos que não interferiam imediatamente na vida das pessoas, que hoje assumem que não havia uma educação política que as fizesse entender o que se tinha passado [com a Revolução dos Cravos]”, disse à agência Lusa Catarina Santana, da companhia.
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O espetáculo é pontuado pelos testemunhos recolhidos de habitantes de Penela que viveram o 25 de Abril já em idade adulta e que hoje têm 80, 90 e 100 anos, e que, no dia da revolução, estavam em diferentes sítios e contextos: no concelho, mas também em Lisboa, no estrangeiro ou na Guerra Colonial.
Segundo André Louro, os testemunhos não se centram apenas no 25 de Abril, mas também no “fantasma da PIDE” (polícia política do Estado Novo), a época depois da revolução e os retornados, entre outras questões.
“São fatias de vida, em que há essa reflexão ‘a posteriori’ sobre a mudança e o que ela significou para as pessoas”, acrescentou Catarina Santana, referindo que no espetáculo são ainda recuperados os comunicados do Movimento das Forças Armadas (MFA) e cartas de um soldado para uma jovem que vivia na Sertã.
André Louro olha para os testemunhos dos habitantes de Penela como textos que não são exclusivos daquele concelho, mas um “exemplo de todo um país”, onde se encontram vivências e relatos semelhantes.
Além dos testemunhos, interpretados por Catarina Santana e André Louro, da Companhia da Chanca, há a música do quinteto de sopros Art’ Ventus, que dá vida a uma peça encomendada para o efeito à jovem compositora Camila Menino.
Aliás, o espetáculo surge do desafio do quinteto à Companhia da Chanca, ao mesmo tempo em que fez a encomenda a Camila Menino para fazer cinco andamentos – o primeiro retratando os últimos tempos do fascismo, três em torno da libertação, da revolução e da democracia, terminando com um epílogo que aponta para o futuro.
Em palco, o quinteto não assume a posição expectável de um conjunto de músicos num espetáculo – no fosso ou na parte de trás do palco -, antes movimentando-se e posicionando-se pelo palco, em ações pensadas para marcar momentos do texto.
“Somos figurinos, somos personagens e não estamos habituados a esses pequenos desafios”, contou à agência Lusa Tiago Coimbra, do quinteto, referindo que a presença e movimento dos músicos em palco têm um significado.
Além disso, a composição de Camila Menino acaba por ser adaptada ao contexto do espetáculo, onde se reduzem dinâmicas para se ouvirem testemunhos ou se assume um aumento de intensidade face àquilo que é dito, explicou.
Para o músico, a composição é uma obra extremamente descritiva, em que se notam andamentos mais estáticos e outros mais movimentados, em que a compositora imagina o que poderia estar a acontecer em palco.
O espetáculo, que inclui sonoridades criadas por alunos do Agrupamento de Escolas Infante Dom Pedro, está inserido no programa “Arte pela Democracia”, uma iniciativa em parceria entre a Direção-Geral das Artes e a Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril, e decorre na segunda-feira, às 18:00, no Auditório Municipal de Penela.
A transcrição e adaptação dos testemunhos é de Paulo Mendes, num espetáculo que tem o apoio da Câmara de Penela.
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