O Café Santa Cruz, um dos mais emblemáticos espaços culturais de Coimbra, apresentou esta segunda-feira, 24 de novembro, na Igreja de Santa Cruz, a segunda edição do livro Memórias do Café Santa Cruz.
A obra reúne novos documentos, histórias e registos inéditos recolhidos ao longo dos últimos oito anos.
Vítor Marques, um dos sócios-gerentes do café, explicou ao Notícias Coimbra que esta nova edição é mais completa e enriquecida. “O preço mantém-se o mesmo, mas aumentou o número de páginas de 134 para 190. Acima de tudo, recebemos e pesquisámos um conjunto de documentos que nos permitiram acrescentar valor ao livro”, afirmou.
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Entre esses documentos estão manuscritos raros do Diário do Governo, que elevam o edifício do Café Santa Cruz a Monumento Nacional. Para Vítor Marques, ter acesso a este material é algo especial: “Ver um conjunto de folhas manuscritas datadas de outubro de 1921 é um momento único.”
A edição inclui também uma homenagem a quatro clientes históricos do café, símbolo de todos os que ao longo de mais de um século fizeram daquele espaço um ponto de encontro. “Temos a penúltima fotografia de quatro clientes que continuam a ser nossos amigos e parte da nossa memória. Ao homenagearmos estas quatro pessoas, homenageamos todos: clientes, fornecedores, sócios, gerentes e funcionários que já partiram”, sublinhou.
Vítor Marques recordou ainda que a história recente do café ganhou novo impulso com o chamado “Pacto 21”, período que antecedeu a sua inauguração oficial em 1923. “Houve circunstâncias que permitiram que o café só fosse inaugurado em 1923, mas esta casa tornou-se, desde então, um dos cafés históricos do país, com muita cultura no seu interior.”
O gestor destacou que o Santa Cruz tem sido palco de inúmeras iniciativas culturais, algo que considera natural: “Várias instituições procuram-nos para apresentar os seus projetos. Atrás de um livro vem uma tertúlia, atrás de uma tertúlia vem uma exposição… Tudo acontece de forma natural, porque acolhemos as pessoas como se estivessem em nossa casa.”
Apesar do prestígio, os desafios mantêm-se. “O maior desafio é manter as portas abertas. São os clientes que, ao consumirem o café, nos permitem publicar livros, CDs, merchandising e participar nas rotas culturais europeias”, disse. Entre os próximos objetivos está a publicação de um novo livro com testemunhos dos clientes mais antigos, preservando memórias que “não devem ficar apenas nos registos fotográficos, mas transformar-se em memória coletiva.”
Outro desafio mencionado refere-se ao projeto ligado à figura de Santo António, cuja presença em Coimbra e no Mosteiro de Santa Cruz tem sido alvo de estudo. “Há um conjunto de pessoas disponíveis para trabalhar gratuitamente na história de Santo António na cidade”, revelou.
Quanto ao futuro, há também ambições internacionais. O Café Santa Cruz integra a Rota dos Cafés com História da Europa e pretende que Coimbra acolha o Fórum Consultivo das Rotas Culturais Europeias. “Não será em 2026 nem 2027, mas talvez em 2028 ou 2029. Porém, a candidatura terá de ser apresentada pelo Estado português, porque só os representantes máximos do país o podem fazer junto do Conselho da Europa”, afirmou Vítor Marques.
A apresentação terminou com um agradecimento especial ao gestor, que recordou aos presentes que o café, com 102 anos de vida, continua a reinventar-se sem perder a memória que o torna único.
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